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Posts Tagged ‘santo do dia’

Na festa das Sete Dores da Bem-Aventurada Virgem Maria, vale a pena conhecer este Setenário das Dores de Nossa Senhora, escrito por Alphonsus de Guimaraens. São sete sonetos para cada uma das sete dores. Reproduzo aqui sete deles, um para cada uma das dores da Virgem Santíssima, escolhidos simplesmente por ser forçoso escolher: vale a pena a leitura da obra completa.

Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

PRIMEIRA DOR

Et tuam ipsius animam pertransibit gladius…
S. LUC. II, 35.

Que lhe importavam lágrimas? Chorasse
Desde o nascer do sol até o sol posto;
Tivesse prantos quando a lua nasce,
Quando, entre nuvens, ela esconde o rosto.

Junto ao seu Berço, a contemplar-lhe a Face,
De Mãe Divina no sublime posto,
Temendo que uma estrela O despertasse,
Gozo teria no maior desgosto.

Por Ele toda a mágoa sofreria…
Ah! corresse-lhe em fonte ardente o pranto
Na paz da noite e nos clarões do dia.

Sofrer por Ele… Sim. Tudo por Esse
A quem beijava os Olhos, mas contanto
Que Ele, o seu Filho amado, não sofresse!

* * *

SEGUNDA DOR

…Angelus Domini apparuit in somnis Joseph…
Qui consurgens accepit puerum et matrem ejus
nocte, et seccessit in Aegyptum.
S. MATTH. II, 13, 14.

José, filho de Reis, o Carpinteiro
Descendente da Casa do Salmista,
Acorda em plena noite, e o corpo inteiro
Treme-lhe, e um raio lhe perturba a vista.

Alvo Kerub ideal, de olhar guerreiro,
Com uns heráldicos sables de conquista,
Surge por entre nimbos, e o nevoeiro
Que faz a grande luz à treva mista.

Num pantaclo estelar estava escrito:
“Ele é o Filho de Deus. Acolhe-o, Esposo,
Ao solo ardente do abrasado Egito.”

“Meu Deus!” exclama o Santo, e mudo espia
A áurea face do Arcanjo luminoso:
Uma fonte de lágrimas corria.

* * *

TERCEIRA DOR

Fili, quid fecisti nobis sic? Ecce pater tuus et
ego dolentes quaerebamus te.

S. LUC. II, 48.

Foi por aquelas ruas circulares
Que O perdeste, Senhora, e que O não viste,
Sorrindo sob a luz dos seus olhares,
Ele, o Cordeiro amargurado e triste…

Quem pudera chorar os teus pesares,
Quem, na angústia a que o peito não resiste,
Te guiara em via-sacra pelos lares,
Sentindo toda a mágoa que sentiste!

Três dias procuraste, em mágoa imensa,
Sofrendo a multidão dos hebreus rudes,
Do Filho eterno a celestial Presença…

(Fé, Esperança, Caridade, hinário
De alívio à Mãe aflita, áureas Virtudes
Que haveis de segui-la até o Calvário!)

* * *

QUARTA DOR

Et bajulans sibi crucem, exivit in eum qui
dicitur Calvariae locum…

S. JOAN. XIX, 17.

Pontius Pilatus olha-O. Quieto e fundo
Olhar mau que talvez de ódio não fosse;
De ódio, não, mas de dúvidas fecundo…
E Cristo era de pé, sereno e doce.

Depois, aquele olhar, que de profundo
Se fizera de escárnio, iluminou-se:
— “És o Rei dos Judeus?” Que deste mundo
O seu Reino não era. E a Voz calou-se.

— “És Rei?” — “Disseste-o”. E a multidão oprime
A Pilatus. No entanto para a turba
Ele fala: — “Não lhe acho nenhum crime.

“Ei-los, Jesus e Barabás precito:
Qual à morte votais?” (A dor pertuba
O Céu de amplo clamor…) — “Jesus”! foi dito.

* * *

QUINTA DOR

Ubi crucifixerunt eum, et cum eo alios duos
hinc et hinc, medium autem Jesum.

S. JOAN. XIX, 18.

Vê-Lo não vos bastava, doce Dama,
Longe dos vossos maternais carinhos;
Sentir que a plebe vil, que ruge e clama,
Viesse em fúria assaltá-Lo nos caminhos:

Escarros que tombavam como lama
Sobre Quem é mais alvo que os arminhos:
E a Fronte real, em radiações de flama,
Cingida pelas pontas dos Espinhos:

Açoites, bofetadas, Cravos, Chagas,
E a Esponja, e a Lança, e o Fel, e a Sede estranha,
E o Sangue santo que corria em bagas:

Tudo era pouco para as vossas Dores…
Que ainda havíeis de vê-Lo na Montanha,
Expirando entre dois salteadores!

* * *

SEXTA DOR

Joseph autem mercatus sindonem, et deponens
eum involvit sindone…

S. MARC. XV,46.

Ora José de Arimatéia viera
Tomar o Corpo de Jesus. Mais cedo
Nicodemos no Gólgota estivera,
E com mirra voltara. E tinham medo.

Pois cada um destes homens puros era
Do bom Senhor discípulo em segredo,
Por temor dos judeus. Logo o soubera
O Sinedrim judaico, injusto e tredo.

Junto ao lugar do Sacrifício, um horto
Havia, e nele um monumento aberto
Onde nunca pousara nenhum morto.

Sepultaram-No, e a lápide fechou-se.
Viu-se depois o túmulo deserto:
Voara ao Céu Quem o Céu consigo trouxe.

* * *

SÉTIMA DOR

… et posuit eum in monumento quod erat
excisum de petra.

S. MARC. XV,46.

Entorna sobre mim as soberanas
Inspirações que brotam dos Altares,
Oh carisma de amor que tudo irmanas,
Serva de Deus, Esposa dos Cantares.

São matinas e vésperas… Hosanas
E aleluias a ti por sobre os mares,
A ti, branca açucena que dimanas
Dos celestes jardins que não têm pares.

Aleluias a ti por sobre a terra:
O espírito do mal, imundo e sevo,
Como um fluido incoercível, nos aterra…

Ah! Senhora, que sempre tu me prezes
Como a um filho: eis a prece que te elevo
Em meio ao temporal dos meus reveses.

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Die 25 martii

In Annuntiatione Domini

[Visitem o SanctaMissa.org]

HONRAR A MÃE É HONRAR O FILHO

Confessar que Maria é mãe de Deus, é preservar a doutrina do Apóstolo São João que nos diz: “o que vimos e ouvimos vo-lo isso anunciamos” (1Jo 1, 3), fugindo de qualquer subterfúgio; é a pedra de toque com que detectamos as pretensões dos maus espíritos, do “Anticristo que entrou no mundo” (cf. 1Jo 4, 3). Essa confissão declara que Ele é Deus, implica que Ele é homem, sugere que Ele segue sendo Deus, mesmo se fazendo homem; e que é verdadeiro homem, mesmo sendo Deus.

Quando os hereges voltaram a surgir no século XVI, não encontraram tática mais certeira para seus perversos propósitos de destruir a fé verdadeira, ridicularizando e blasfemando contra as prerrogativas de Maria, pois tinham por certo que, se conseguissem que o mundo desonrasse a Mãe, disso se seguiria a desonra do Filho. A Igreja Católica e Satanás estavam de acordo com isso: o Filho e a Mãe estão intimamente ligados; a experiência de quatro séculos confirmou seus testemunhos, pois os católicos que honraram a Mãe seguem adorando o Filho, enquanto os protestantes, que deixaram de confessar o Filho, começaram a zombar da Mãe.

Percebe-se nesse exemplo a coerente harmonia que há na doutrina revelada, como uma verdade repercute sobre a outra. Exaltar Maria é honrar Jesus. Convinha que Maria, que era somente criatura – sendo a mais excelsa de todas – tivesse de levar a cabo a tarefa de instrumento. Como outros, Ela veio ao mundo para realizar uma obra; tinha uma missão a cumprir; possui a graça e a glória não por si mesma, mas por seu Criador. A Maria foi confiada a custódia da Encarnação. A tarefa lhe é encomendada: “Eis que uma Virgem está grávida e dará à luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel” (Is 7, 14).

Quando estava na terra cuidou pessoalmente de seu Filho, levou-o em seu seio, abrigou-o com seus braços, alimentou-o em seu peito, agora também – até o último momento da vida da Igreja – seus privilégios e a devoção dirigida a Maria proclamam e definem a fé reta acerca de Jesus como Deus e como Homem. Uma igreja dedicada, um altar que se erige em seu nome, uma imagem, uma ladainha que a louva, uma Ave Maria que se reza, comunica-nos a memória d’Aquele que, sendo louvado desde a eternidade, “não desprezou as entranhas de uma Virgem”, para benefício dos pecadores. Por isso, como a Igreja a proclama, Maria é a Torre de Davi, é a defesa alta e poderosa do verdadeiro Rei de Israel; por isso, a Igreja diz também em uma antífona: “Só Ela destruiu [sozinha] todas as heresias no mundo inteiro”.

[…]

MARIA, PORTA DO CÉU

Maria é chamada Porta do Céu porque foi o caminho que o Senhor escolheu para do céu descer à terra. O profeta Ezequiel, profetizando sobre Maria, diz: “Este pórtico ficará fechado. Não se abrirá e ninguém entrará por ele, porque por ele entrou Iahweh, o Deus de Israel, pelo que permanecerá fechado. O Príncipe, contudo, se sentará aí” (Ex 44, 2-3).

Pois bem, isso se cumpriu, não porque Nosso Senhor tomou a carne de Maria tornando-se seu filho, e sim porque Ela ocupou um lugar na economia da Redenção; cumpriu no espírito e na vontade, como em seu corpo. Eva participou da queda do homem, sendo Adão quem nos representou e seu pecado nos fez pecadores. Foi Eva quem tomou a iniciativa e tentou Adão. A Escritura diz: “A mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à vista, e que essa árvore era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deu-o também a seu marido, que com ela estava, e ele comeu” (Gn 3, 6). Convinha, pois, à misericórdia de Deus que, como pela mulher começou a destruição do mundo, também fosse pela mulher que começasse a reconstrução; e como Eva abriu o caminho à obra fatal de Adão, também Maria abrisse o caminho à obra prima do segundo Adão, Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio salvar o mundo morrendo na Cruz. Por isso, Maria é chamada pelos Santos Padres, segunda e perfeita Eva, porque deu o primeiro passo na salvação da humanidade que Eva havia levado à ruína.

Como e quando tomou Maria parte inicial, na restauração do mundo? Quando o anjo Gabriel apareceu para lhe dar a conhecer a excelsa dignidade que ia ter. São Paulo diz: “que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: esse é o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1). Devemos não só rezar com os lábios, jejuar, fazer penitência exterior, ser castos em nossos corpos, mas também devemos ser obedientes e puros de espírito. Com respeito à Santíssima Virgem, foi desejo de Deus que aceitasse voluntariamente e com pleno conhecimento ser Mãe de Nosso Senhor, não que fosse um mero instrumento passivo cuja maternidade não teria mérito nem recompensa. Quanto mais altos são nossos dons, mais alta é nossa responsabilidade. Não foi uma carga leve estar tão intimamente próxima do Redentor dos homens e a Virgem a experimentou quando sofreu junto com Ele. Por isso, ponderando bem as palavras do anjo antes de dar uma resposta, primeiro perguntou se uma missão tão excelsa, suporia a perda da virgindade que Ela havia consagrado a Deus. Quando o anjo lhe respondeu que de nenhuma maneira, então, com o pleno consentimento de um coração cheio do amor de Deus, com humildade disse: “Eis a serva do Senhor; faça-se m mim segundo tua palavra” (Lc 1, 38). Com esse consentimento se converteu na Porta do Céu.

[Cardeal Newman, “Reflexões sobre a Virgem Santíssima”, pp. 19-21; 64-66. Editora Formatto, São Paulo, 2006]

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Die 19 martii

Sancti Ioseph, sponsi B. Mariæ Virginis

[Visitem o SanctaMissa.org]

Uma solenidade no meio do tempo Quaresmal; paramentos brancos, contrastando com o roxo dos demais dias. O Gloria in Excelsis Deo entoado mais uma vez, quando já há algumas semanas não o ouvíamos; uma festa de Primeira Classe, no coração da Quaresma! Peçamos hoje a especial proteção de São José, protetor da Santa Igreja. Vejamos:

– Professor Felipe Aquino, sobre a festa de São José;

Se S. José foi escolhido para Esposo de Maria, a mais santa de todas as mulheres, é porque ele era o mais santo de todos os homens.  Se houvesse alguém mais santo que José, certamente seria este escolhido por Jesus para Esposo de Sua Mãe Maria. Nós não pudemos escolher nosso pai e nossa mãe, mas Jesus pôde, então, escolheu os melhores que existiam.

Le voci che da tutti, carta apostólica de João XXIII, segundo da qual São José é… Padroeiro do Vaticano II!

Ó s. José! Aqui, aqui mesmo é vosso lugar de “Protetor da Igreja universal”. Quisemos apresentar-vos, através das palavras e dos documentos de nossos predecessores imediatos dos últimos séculos – de Pio IX a Pio XII – uma coroa de honra, como eco dos testemunhos de afetuosa veneração que se eleva igualmente de todas as nações católicas e de todas as regiões missionárias. Sede sempre nosso protetor. Que vosso espírito interior de paz, de silêncio, de bom trabalho e de oração, a serviço da santa Igreja, nos vivifique sempre e nos alegre em união com vossa santa esposa, nossa dulcíssima Mãe Imaculada, num fortíssimo e suave amor a Jesus, Rei glorioso e imortal dos séculos e dos povos. Assim seja.

– Antônio Carlos Santini, em poema sobre o santo:

Os dois abraços
(Antônio Carlos Santini)

Inda se vê no céu a estrela matutina
A despedir seus raios sobre Nazaré
E já trabalha e sua o bom José:
Um tanto ferreiro, um tanto carapina

Inda é bem cedo: o galo da manhã clarina,
Convida o burgo pobre a se postar de pé.
Fina fumaça esfuma o céu, da chaminé
Da casa de Maria, aos fundos da oficina.

Entra o menino e abraça o pai devagarinho…
E a túnica do pai recende a cedro e pinho,
O cheiro da floresta quando a chuva cai…

Se um dia, no calvário, ele abraçou a cruz,
Por certo há de se lembrar, o salvador Jesus,
Que tinha esse perfume a túnica do pai…

– E, por fim, rezemos a Ladainha de São José:

Litaniae Sancti Ioseph

[PrecesLatinae.org]

Kyrie, eleison.
R. Christe, eleison.
Kyrie, eleison.

Christe, exaudi nos.
R. Christe, audi nos.

Pater de caelis, Deus,
R. miserere nobis.
Fili, Redemptor mundi, Deus,
R. miserere nobis.
Spiritus Sancte Deus,
R. miserere nobis.
Sancta Trinitas, unus Deus,
R. miserere nobis.

Sancta Maria,
R. ora pro nobis.

Sancte Ioseph,
R. ora pro nobis.

Proles David inclyta,
R. ora pro nobis.

Lumen Patriarcharum,
R. ora pro nobis.

Dei Genetricis Sponse,
R. ora pro nobis.

Custos pudice Virginis,
R. ora pro nobis.

Filii Dei nutricie,
R. ora pro nobis.

Christi defensor sedule,
R. ora pro nobis.

Almae Familiae praeses,
R. ora pro nobis.

Ioseph iustissime,
R. ora pro nobis.

Ioseph castissime,
R. ora pro nobis.

Ioseph prudentissime,
R. ora pro nobis.

Ioseph fortissime,
R. ora pro nobis.

Ioseph oboedientissime,
R. ora pro nobis.

Ioseph fidelissime,
R. ora pro nobis.

Speculum patientiae,
R. ora pro nobis.

Amator paupertatis,
R. ora pro nobis.

Exemplar opificum,
R. ora pro nobis.

Domesticae vitae decus,
R. ora pro nobis.

Custos virginum,
R. ora pro nobis.

Familiarum columen,
R. ora pro nobis.

Solatium miserorum,
R. ora pro nobis.

Spes aegrotantium,
R. ora pro nobis.

Patrone morientium,
R. ora pro nobis.

Terror daemonum,
R. ora pro nobis.

Protector sanctae Ecclesiae,
R. ora pro nobis.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
R. parce nobis, Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
R. exaudi nobis, Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
R. miserere nobis.

V. Constituit eum dominum domus suae.
R. Et principem omnis possessionis suae.

Oremus: Deus, qui in ineffabili providentia beatum Ioseph sanctissimae Genetricis tuae Sponsum eligere dignatus es, praesta, quaesumus, ut quem protectorem veneramur in terris, intercessorem habere mereamur in caelis: Qui vivis et regnas in saecula saeculorum. Amen.

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Salve a Mãe de Deus e Nossa / Sem pecado concebida. / Salve a Virgem Imaculada, / Ó Senhora Aparecida! Não poderia deixar de escrever umas pequenas palavras em louvor à Mãe de Deus, Padroeira do Brasil.

Nós Vos saudamos, ó Mãe Santíssima, porque temos plena consciência de que somente debaixo do Vosso manto poderemos estar protegidos de todos os perigos desta vida.

Saudamo-Vos, ó Mãe Santíssima, porque somente seremos perfeitos imitadores de Cristo na medida em que – como Ele – formos perfeitos filhos vossos.

Saudamo-Vos, ó Virgem Imaculada, porque Vós vencestes sozinha todas as heresias do mundo inteiro, e somente ao Vosso lado sabemos poder encontrar a vitória certa.

Saudamo-Vos, ó Virgem Imaculada, porque Vós sois a doçura que nós, degredados filhos de Eva, podemos esperar como alento neste Vale de Lágrimas que atravessamos.

Saudamo-Vos, ó Mãe de Deus, porque o próprio Deus – pela boca do Arcanjo Gabriel – saudou-Vos um dia.

Saudamo-Vos, ó Mãe de Deus, porque Vós encontrastes graça diante do Altíssimo.

Saudamo-Vos, ó Maria, porque o Deus Altíssimo constituiu-Vos tesoureira dos Seus bens e dispensadora de Suas graças, de modo que nenhum favor dos Céus podemos esperar receber que não nos venha por Vossas mãos virginais.

Saudamo-Vos, ó Maria, porque impondes verdadeiro terror a todas as hostes infernais.

Saudamo-Vos, ó Senhora, porque sois o Auxílio dos Cristãos, e jamais se ouviu dizer que tivésseis desamparado àqueles que se Vos achegassem confiantes.

Saudamo-Vos, ó Senhora, porque sois Rainha dos Céus e da terra.

Saudamo-Vos, ó Virgem Aparecida, porque sois padroeira do Brasil.

Saudamo-Vos, ó Virgem Aparecida, porque somos Vossos filhos, e queremos conhecer-Vos, amar-Vos e servir-Vos na terra a fim de, um dia, conVosco encontrarmo-nos no Céu.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida,
rogai por nós!

* * *

Hoje, na festa da Virgem Aparecida, foi também a festa de canonização de quatro santos – um deles, uma mulher indiana. Afonsa da Imaculada Conceição é a primeira santa da Índia. Que – como pediu o Papa -, pela intercessão dela e de Nossa Senhora Aparecida, a situação neste país possa ser apaziguada e a perseguição aos cristãos possa cessar, o quanto antes. E bendito seja Deus em Sua Mãe e nos Seus santos.

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– Uma afirmação incompleta em ZENIT: Santa Sé é contra a pena de morte. Na verdade, “[a] doutrina tradicional da Igreja, desde que não haja a mínima dúvida acerca da identidade e da responsabilidade do culpado, não exclui o recurso à pena de morte, se for esta a única solução possível para defender eficazmente vidas humanas de um injusto agressor” (CIC 2267). Portanto, a pena de morte, do ponto de vista doutrinário, é lícita; o que não significa que ela deva ser aplicada sempre e é – aí sim – somente neste sentido que se pode dizer que a Santa Sé é “contra” a pena de morte (nas aplicações circunstanciais atuais, e não no princípio).

Ver numa moratória da ONU que “a cultura da vida «hoje é compartilhada universalmente, apesar das contínuas ameaças e derivações violentas»” parece-me, data vênia, um extremo e ingênuo otimismo de Dom Agostino Marchetto. Outrossim – e mais importante -, a cultura da vida não se opõe à (lícita) aplicação da pena capital.

– A aprovação do presidente Lula no Nordeste é – vergonha!! – de 92%! Mesmo contabilizando o resto do país, ela chega a 80%! Quatro em cada cinco brasileiros aprovam o desgoverno petista! Já era sabido que o sr. presidente tinha um grande apoio da população nordestina, mas eu sinceramente me recuso a acreditar que este índice atinja mais de 90%. É absurdo demais.

– Os advogados de João da Costa – o candidato petista à prefeitura de Recife, que teve a candidatura cassada na última semana – dizem que o juiz que pronunciou a sentença em desfavor do petista é suspeito! Claro; afinal de contas, quem poderia honestamente ousar questionar a probidade incontestável das vestais do PT? Para o petismo, não têm nenhuma relevância coisas como argumentos, dados, fatos, provas, etc. A idoneidade do partido é um axioma inquestionável. Desgraçadamente, isso é especialmente válido para os eleitores recifenses que votam em João da Costa; a maior parte deles está candidamente convencida de que isto é mesmo “intriga da oposição”, “golpe”, “tapetão” e congêneres.

– Hoje é dia de São Miguel Arcanjo (no calendário novo, festa dos três Arcanjos). Que ele nos defenda no árduo e desproporcional combate que somos chamados a travar.

Sancte Michael Archangele, defende nos in praelio, contra nequitias et insidias diaboli esto praesidium: Imperet illi Deus, supplices deprecamur, tuque, Princeps militiae caelestis, satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude. Amen.

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Como era certa aquela intuição da bela figura espiritual francesa de Dom Jean-Baptiste Chautard, aquele que na “Alma de todo Apostolado” oferecia ao fervoroso cristão freqüentes encontros de olhar com a Virgem Maria! Sim, procurar o sorriso da Virgem Maria não é mais um piedoso infantilismo. É uma inspiração, diz o Salmo 44, daqueles que são ‘os mais ricos do povo’. Os ‘mais ricos’, entende-se, na ordem da fé, são aqueles que têm a maturidade espiritual mais elevada e sabem, por isso, reconhecer suas fragilidades e sua pobreza diante de Deus. Naquela manifestação muito simples de ternura que é o sorriso, percebemos que a nossa única riqueza é o amor que Deus tem por nós, e que passa através do coração daquela que se tornou nossa Mãe. Procurar este sorriso significa antes de tudo colher a gratuidade do amor; significa também saber suscitar este sorriso com o nosso compromisso em viver segundo a palavra de seu Filho predileto, assim como a criança tenta suscitar o sorriso da mãe, fazendo aquilo que ela gosta. E nós sabemos aquilo de que Maria gosta, graças às palavras que ela mesma dirigiu aos servos de Caná: “Façam aquilo que Ele vos disser”.
[Homilia do Papa na missa com os enfermos,
15 de setembro de 2008
Festa de Nossa Senhora das Dores
]

Após celebrarmos ontem a festa da Exaltação da Santa Cruz, hoje a Igreja celebra as Sete Dores de Maria Santíssima. A Cruz do Senhor, as Dores de Sua Mãe Imaculada. Uma bela seqüência litúrgica, que une o instrumento da nossa Redenção ao sacrifício Co-Redentor d’Aquela que soube unir as Suas Dores à Dor do Seu Divino Filho, em favor de nós.

Por quê, afinal, exaltar a Santa Cruz? Porque a Cruz é o sinal do cristão, e Cristo Crucificado nos ensinou, no alto do Calvário, o valor do sofrimento: fomos curados graças às Suas chagas (Is 53, 5). E por quê, ainda, relembrarmos as Dores de Maria Santíssima? Porque Aquela que Se conformou perfeitamente à vontade do Seu Divino Filho é-Lhe imitadora em tudo – de maneira particularíssima, na Dor. Devemos seguir os passos de Cristo junto com Sua Mãe Dolorosa. Devemos tomar a nossa Cruz a cada dia e seguir Jesus (cf. Mc 8, 34); e a Virgem, Mater Dolorosa, é a primeira a nos ensinar isso com o Seu exemplo. Neste Vale de Lágrimas, chora a Virgem, não pelos próprios pecados, mas pelos pecados dos Seus filhos; a Virgem penitente faz penitência não por Si própria – pois não tem necessidade – mas por aqueles que Ela ama maternalmente. Não conhecemos o suficiente o valor dos sofrimentos desta Senhora Imaculada em nosso favor! Somos duplamente ingratos, esquecendo-nos da Cruz de Cristo ontem exaltada e menosprezando as lágrimas da Virgem hoje vertidas por nós. Maria abraçou com prontidão a Cruz de Jesus Cristo e assumiu sem pestanejar as dores do Seu Filho, embora não tivesse pecados para Se penitenciar; e nós, que temos tantas faltas e tão grandes culpas, com que dificuldade fazemos penitência em nosso favor! Olhemos para a Virgem das Dores; que o amor desta Boa Mãe pelas nossas almas possa fazer com que as valorizemos mais. E que, pela intercessão de Nossa Senhora das Dores, nós possamos, seguindo os passos de Cristo até o Calvário, alcançarmos um dia a Bem-Aventurança Eterna à qual Ele nos chama. Amen.

* * *

Rezemos:

Litaniae Dominae nostrae Dolorum

Kyrie, eleison.
R. Christe, eleison.

Kyrie, eleison.
Christe, audi nos.
R. Christe, exaudi nos.

Pater de caelis, Deus,
R. miserere nobis.

Fili, Redemptor mundi, Deus,
R. miserere nobis.

Spiritus Sancte Deus,
R. miserere nobis.

Sancta Trinitas, unus Deus,
R. miserere nobis.

Sancta Maria,
R. ora pro nobis.

Sancta Dei Genetrix,
R. ora pro nobis.

Sancta Virgo virginum,
R. ora pro nobis.

Mater crucifixa,
R. ora pro nobis.

Mater dolorosa,
R. ora pro nobis.

Mater lacrimosa,
R. ora pro nobis.

Mater afflicta,
R. ora pro nobis.

Mater derelicta,
R. ora pro nobis.

Mater desolata,
R. ora pro nobis.

Mater filio orbata,
R. ora pro nobis.

Mater gladio transverberata,
R. ora pro nobis.

Mater aerumnis confecta,
R. ora pro nobis.

Mater angustiis repleta,
R. ora pro nobis.

Mater cruci corde affixa,
R. ora pro nobis.

Mater maestissima,
R. ora pro nobis.

Fons lacrimarum,
R. ora pro nobis.

Cumulus passionum,
R. ora pro nobis.

Speculum patientiae,
R. ora pro nobis.

Rupes constantiae,
R. ora pro nobis.

Ancora confidentiae,
R. ora pro nobis.

Refugium derelictorum,
R. ora pro nobis.

Clipeus oppressorum,
R. ora pro nobis.

Debellatrix incredulorum,
R. ora pro nobis.

Solatium miserorum,
R. ora pro nobis.

Medicina languentium,
R. ora pro nobis.

Fortitudo debilium,
R. ora pro nobis.

Portus naufragantium,
R. ora pro nobis.

Sedatio procellarum,
R. ora pro nobis.

Recursus maerentum,
R. ora pro nobis.

Terror insidiantium,
R. ora pro nobis.

Thesaurus fidelium,
R. ora pro nobis.

Oculus Prophetarum,
R. ora pro nobis.

Baculus Apostolorum,
R. ora pro nobis.

Corona Martyrum,
R. ora pro nobis.

Lumen Confessorum,
R. ora pro nobis.

Margarita Virginum,
R. ora pro nobis.

Consolatio Viduarum,
R. ora pro nobis.

Laetitia Sanctorum omnium,
R. ora pro nobis.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
R. parce nobis, Iesu.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
R. exaudi nobis, Iesu.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
R. miserere nobis, Iesu.

Respice super nos, libera nos, salva nos ab omnibus angustiis in virtute Iesu Christi. Amen.

Scribe, Domina, vulnera tua in corde meo, ut in eis legam dolorem et amorem: dolorem, ad sustinendum per te omnem dolorem: amorem, ad contemnendum per te omnem amorem.

Credo.

Salve Regina.

Ave Maria.

Ave Maria.

Ave Maria.

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Na festa de Exaltação da Santa Cruz, cantemos louvores ao lenho do qual pendeu a Salvação do Mundo!

* * *

Ave, crux sancta, virtus nostra

Ave, crux sancta, virtus nostra.
Ave, crux adoranda, laus et gloria nostra.
Ave, crux, auxilium et refugium nostrum.
Ave, crux, consolatio omnium moerentium;
Salve, crux, victoria et spes nostra;
Salve, crux, defensio et vita nostra.
Salve, crux, redemptio et liberatio nostra.
Salve, crux, signum salutis, atque inexpugnabilis murus contra omnem virtutem inimici.
Sit mihi crux semper spes Christianitatis meae.
Sit mihi crux resurrectio mortis meae.
Sit mihi crux triumphus adversus daemones.
Sit mihi crux mater consolationis meae.
Sit mihi crux requies tribulationis meae.
Sit mihi crux baculus senectutis meae.
Sit mihi crux medicina aegrotationis meae.
Sit mihi crux protectio nuditatis meae.
Sit mihi crux consolatio vitae meae.
Sit mihi crux in omnibus angustiis meis solatium.
Sit mihi crux remedium in tribulationibus meis.
Sit mihi crux in infirmitatibus meis medicamentum, atque contra omnia adversa tutamentum. Amen.

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A festa da Imaculada Conceição da Virgem celebra-se no dia 08 de dezembro. Nove meses depois – hoje, dia 08 de setembro -, comemora-se o aniversário de Nossa Senhora, a festa do nascimento da Virgem Maria, a natividade da Mãe de Deus. Que Ela seja em nosso favor!

* * *

SERMÃO DO NASCIMENTO DA VIRGEM MARIA
DEBAIXO DA INVOCAÇÃO DE N. SENHORA DA LUZ,
TÍTULO DA IGREJA E COLÉGIO DA COMPANHIA DE JESUS,
NA CIDADE DE S. LUÍS DO MARANHÃO.
ANO DE 1657

De qua natus est Jesus.

Pe. Antônio Vieira [download aqui de seus sermões]

Celebramos hoje o nascimento; mas que nascimento celebramos? Se o perguntarmos à Igreja, responde que o nascimento de Maria; se consultarmos o Evangelho, lemos nele o nascimento de Jesus: De qua natus est Jesus. Assim temos encontrados nas mesmas palavras que propus, o texto com o mistério, o tema com o sermão, e um nascimento com outro. Se a Igreja celebrara neste dia o nascimento glorioso de Cristo, muito acomodado Evangelho nos mandava ler; mas o dia e o nascimento que festejamos não é o do Filho, é o da Mãe. Pois se ainda hoje nasce a Mãe, como nos mostra já a igreja e o Evangelho não a Mãe, senão o Filho nascido: De qua natus est Jesus? Só no dia de Nossa Senhora da Luz se pudera responder cabalmente a esta dúvida. O sol, se bem advertirdes, tem dois nascimentos: um nascimento com que nasce quando nasce, e outro nascimento com que nasce antes de nascer. Aquela primeira luz da manhã que apaga ou acende as sombras da noite, cuja luz é? É luz do sol. E esse sol então está já nascido? Não e sim. Não, porque  ainda não está nascido em si mesmo. Sim, porque já está nascido na sua luz. De sorte que naturalmente vêem os nossos olhos ao sol duas vezes nascido: nascido quando nasce, e nascido antes de nascer.

Grande prova temos desta filosofia na mesma história evangélica, e é um dos mais aparentes encontros que se acham em toda ela. Partiram as Marias ao sepulcro na manhã do terceiro dia, e referindo o evangelista, S. Marcos a hora a que chegaram, diz assim: Valde mane una subbatorum veniunt ad monumentum orto jam sole: Ao domingo muito de madrugada chegaram ao sepulcro sendo já o sol nascido (Mc. 16,2). Notável dizer! Se era já o sol nascido: Orto jam sole, como era muito de madrugada: Valde mane? E se era muito de madrugada; Valde mane, como era já o sol nascido: Orto jam sole? Tudo era e tudo podia ser, diz Santo Agostinho, porque era o sol nascido antes de nascer. Ora vede. O tempo em que vieram as Marias ao sepulcro era muito de madrugada: Valde mane, diz S. Marcos; Valde diluculo, diz S. Lucas (Lc. 24,2). Era muito de madrugada: Valde mane? Logo já havia alguma luz que isso quer dizer dilúculo. Havia luz? Logo, já o sol estava nascido: Orto jam sole. Provo a conseqüência, porque o sol, como dizíamos, tem dois nascimentos: um nascimento quando vem arraiando aquela primeira luz da manhã a que chamamos aurora; outro nascimento quando o sol descobre, ou acaba de desaparecer em si mesmo. E como o sol não só nasce quando nasce em si mesmo, senão também quando nasce na sua luz, por isso disse o evangelista com toda a verdade, que era de madrugada e que era o sol nascido, Nenhuma destas palavras é minha; todas são da glosa de Lirano seguindo a Santo Agostinho: Valde mane, orto jam soIe: Sol enim potest oriri dupliciter: uno modo perfecte, quando primo egreditur et apparet super terram; alio modo, quando lur ejus incipit apparerere, scilicet in aurora, et sic accipitur hic ortus solis. Não o podia dizer mais em português. De maneira que àquela primeira luz com que se rompem as trevas da noite, chamou S. Marcos nascimento do sol, porque em todo o rigor da verdade evangélica, não só nasce o sol quando nasce em si mesmo, senão quando nasce na sua luz. Um nascimento do sol é quando nasce em si mesmo e aparece sobre a terra: Quando primo egreditur et apparet super terram; o outro nascimento é antes de nascer em si mesmo, quando nasce e aparece a sua luz: Quando lux ejus incipit apparere. É o que estamos vendo neste dia, e o que nos está pregando a Igreja neste Evangelho. O dia mostra-nos nascida a luz, o Evangelho mostra-nos nascido o sol, e tudo é. Não é o dia em que o sol apareceu nascido sobre a terra: Quando primo egreditur et apparet super terram, mas é o dia em que aparece nascido na luz da sua aurora: Quando lux eius incipit apparere, scilicet in aurora: porque, se o sol não está ainda nascido em si mesmo, já está nascido na luz de que há de nascer: De qua natus est Jesus.

Estava dito. Mas porque parecerá novidade dar dois nascimentos e dois dias de nascimentos a Cristo, saibam os curiosos que não é novidade nova senão mui antiga, e uma das mais bem retratadas verdades que o Criador do mundo nos pintou no princípio dele. No primeiro dia do mundo criou Deus a luz, no quarto dia criou o sol. Sobre estes dois dias e estas duas criações há grande batalha entre os doutores, porque se o sol é a fonte da luz, que luz é esta que foi criada antes do sol? Ou é a mesma luz do sol, ou é outra luz diferente? Se é a mesma, por que não foi criada no mesmo dia? E se é diferente, que luz é, ou que luz pode haver diferente da luz do sol? Santo Tomás, e com ele o sentir mais comum dos teólogos, resolve que a luz que Deus criou o primeiro dia foi a mesma luz de que formou o sol ao dia quarto. De modo que em ambos estes dias e em ambas estas criações foi criado o sol. No primeiro dia foi criado o sol informe; no quarto dia foi criado o sol formado. São os termos de que usa Santo Tomás. No primeiro dia foi criado o sol informe, porque foi criado em forma de luz; no quarto dia foi criado o sol formado, porque foi criado em forma de sol. Em conclusão, que entre todas as criaturas só o sol teve dois dias de nascimento: o primeiro dia e o quarto dia. O quarto dia em que nasceu em si mesmo, e o primeiro em que nasceu na sua luz. O quarto dia em que nasceu sol formado, e o primeiro em que nasceu na luz de que se formou. Pode haver propriedade mais própria? Agora pergunto eu, se alguém me não entendeu ainda: quem é este sol duas vezes nascido? E quem é esta luz de que se formou este sol? O sol é Jesus, a luz é Maria, diz Alberto Magno. E não era necessário que ele o dissesse. Assim como o sol nasceu duas vezes, e teve dois dias de nascimento; assim como o sol nasceu uma vez quando nascido e outra antes de nascer; assim como o sol uma vez nasceu em si mesmo, e outra na sua luz; assim, nem mais nem menos, o sol Divino, Cristo, nasceu duas vezes e teve dois dias de nascimento. Um dia em que nasceu em Belém, outro em que nasceu em Nazaré. Um dia em que nasceu quando nascido, que foi em vinte e cinco de dezembro, e outro dia em que nasceu antes de nascer, que foi neste venturoso dia. Um dia em que nasceu de sua Mãe, outro dia em que nasceu com ela. Um dia em que nasceu em si mesmo, outro dia em que nasceu naquela de quem nasceu: De qua natus est Jesus.

[…]

Ora, cristãos, suposto que aquela soberana luz é tão apressada e diligente para nosso remédio, suposto que é tão universal para todos e para tudo, suposto que é tão piedosa e benigna para nos querer fazer bem, suposto que é tão privilegiada e favorecida por graça e benignidade do mesmo sol, metamo-nos todos hoje debaixo das asas desta soberana protetora para que nos faça sombra e nos dê luz, para que nos faça sombra e nos defenda dos raios do Sol de justiça, que tão merecidos temos por nossos pecados, e para que nos dê luz para sair deles, pois é Senhora da Luz. Aquela mulher prodigiosa do Apocalipse, que S. João viu com as asas estendidas, toda a Igreja reconhece que era a Virgem Maria. E nós podemos acrescentar que era a Virgem debaixo do nome e invocação de Senhora da Luz. A mesma luz o dizia e o mostrava, que da peanha até a coroa toda era luzes: a peanha lua, o vestido sol, a coroa estrelas; toda luzes e toda luz. E pois a Senhora da Luz está com as asas abertas; metamo-nos debaixo delas, e muito dentro delas, para que sejamos filhos da luz. Dum lucem habetis, credite in lucem ut filii lucis sitis, diz Cristo (Jo. 12,36). Enquanto se vos oferece a luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Sabeis, cristãos, por que não acabamos de ser filhos da luz? É porque não acabamos de crer na luz. Creiamos na luz, e creiamos que não há maior bem no mundo que a luz, e ajudem-nos a esta fé os nossos mesmos sentidos.

Por que estimam os homens o ouro e a prata, mais que os outros metais? Porque têm alguma coisa de luz. Por que estimam os diamantes e as pedras preciosas mais que as outras pedras? Porque têm alguma coisa de luz. Por que estimam mais as sedas que as lãs? Porque têm alguma coisa de luz. Pela luz avaliam os homens a estimação das coisas, e avaliam bem, porque quanto mais têm de luz, mais têm de perfeição. Vede o que notou Santo Tomás: Neste mundo visível, umas coisas são imperfeitas, outras perfeitas, outras perfeitíssimas; e nota ele com sutileza e advertência angélica, que as perfeitíssimas têm luz, e dão luz; as perfeitas não têm luz mas recebem luz; as imperfeitas nem têm luz, nem a recebem. Os planetas, as estrelas e o elemento do fogo, que são criaturas sublimes e perfeitíssimas, têm luz e dão luz; o elemento do ar e o da água, que são criaturas diáfanas e perfeitas, não têm luz mas recebem luz; a terra e todos os corpos terrestres, que são criaturas imperfeitas e grosseiras, nem têm luz, nem recebem luz, antes a rebatem e deitam de si. Ora, não sejamos terrestres, já que Deus nos deu uma alma celestial; recebamos a luz, amemos a luz, busquemos a luz, e conheçamos que nem temos, nem podemos, nem Deus nos pode dar bem nenhum que seja verdadeiro bem, sem luz. Ouvi umas palavras admiráveis do apóstolo S. Tiago na sua epístola:

Omne datum optim um, et omne donum perfectum de sursum est, descendens a Patre luminum (Tg. 1,17): Toda dádiva boa, e todo dom perfeito descende do Pai dos lumes. Notável dizer! De maneira que quando Deus nos dá um bem que seja verdadeiramente bom, quando Deus nos dá um bem que seja verdadeiramente perfeito, não se chama Deus pai de misericórdias, nem fonte das liberalidades: chama-se pai dos lumes e fonte da luz, porque no lume e na luz, que Deus nos dá com os bens, consiste a bondade e a perfeição deles. Muitos dos que nós chamamos bens de Deus, sem luz são verdadeiramente males, e muitos dos que nós chamamos males, com luz são verdadeiros bens. Os favores sem luz são castigos, e os castigos com luz são favores; as felicidades sem luz são desgraças, e as desgraças com luz são felicidades; as riquezas sem luz são pobreza, e a pobreza com luz são as maiores riquezas; a saúde sem luz é doença, e a doença com luz é saúde. Enfim na luz ou falta de luz consiste todo o bem ou mal desta vida, e todo o da outra. Porque cuidais que foram santos os santos, senão porque tiveram a luz que a nós nos falta? Eles desprezaram o que nós estimamos, eles fugiram do que nós buscamos, eles meteram debaixo dos pés o que nós trazemos sobre a cabeça, porque viam as coisas com diferente luz do que nós as vemos. Por isso Davi em todos os salmos, por isso os profetas em todas suas orações, e a Igreja nas suas, não cessam de pedir a Deus luz e mais luz.

Esse é o dia, cristãos, de despachar estas petições. Peçamos hoje luz para nossas trevas, peçamos luz para nossas escuridades, peçamos luz para nossas cegueiras, luz com que conheçamos a Deus, luz com que conheçamos o mundo, e luz com que nos conheçamos a nós. Abramos as portas à luz para que alumie nossas casas; abramos os olhos à luz, para que alumie nossos corações; abramos os corações à luz, para que more perpetuamente neles. Venhamos, venhamos a buscar luz a esta fonte de luz, e levemos daqui cheias de luz nossas almas. Com esta luz saberemos por onde havemos de ir; com esta luz conheceremos donde nos havemos de guardar; com esta luz, enfim, chegaremos àquela luz onde mora Deus, a que o apóstolo chamou luz inacessível: Qui lucem inhabitat inaccessibilem (I Tim. 6,16), que só por meio da luz que hoje nasce, se pode chegar à vista do sol que dela nasceu: De qua natus est Jesus.

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[Arquivo pessoal – Madrid]

5. Que opróprio não se apresenta para a condição humana o túmulo com a sua podridão! Jesus, isento deste opróprio universal, também dele isentou a Santa Virgem, porque a carne de Jesus é a de Maria.

7. Se Maria foi tão justamente ornada durante toda a sua vida com graças, mais abundantemente do que todas as outras pessoas, após a sua morte, a intensidade dessas graças haveria de diminuir? Por certo que não. Pois se a morte de todos os santos é preciosa (Sl 115, 15), a de Maria, certamente, é mais preciosa ainda. Ela, que pôde ser chamada Mãe de Deus e que o foi de fato.

8. Era justo ficar isenta da corrupção aquela que fora inundada com tantas graças. Deveria viver, toda inteira, aquela que gerou a Vida perfeita e completa de todos os humanos.

Que ela esteja com aquele a quem trouxe no seio: que esteja junto àquele que pôs no mundo, a quem aqueceu e nutriu. Maria, a mãe de Deus, a ama de Deus, o reino de Deus, a imitadora de Deus.

[Tratactus De Assumptione B. Mariae Virginis 5.7.8. Escrito atribuído.
in “Santo Agostinho – a Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários”
Ed. Paulus
São Paulo, 2002
]

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[André Gonçalves, pintor português – Séc. XVIII]

… gaudet exercitus Angelorum!

Signum magnum apparuit in coelo: mulier amicta sole, et luna sub pedibus ejus, et in capite ejus corona stellarum duodecim. — Cantate Domino canticum novum: quia mirabilia fecit. V.: Gloria Patri … — Signum magnum apparuit in coelo …
[Intróito da missa de hojeRECOMENDO UMA VISITA!]

Hoje a Igreja celebra a festa da Assunção da Santíssima Virgem. Da MUNIFICENTISSIMUS DEUS:

[E]sta solene proclamação e definição será de grande proveito para a humanidade inteira, porque reverte em glória da Santíssima Trindade, a qual a virgem Mãe de Deus está ligada com laços muito especiais. É de esperar também que todos os fiéis cresçam em amor para com a Mãe celeste, e que os corações de todos os que se gloriam do nome de cristãos se movam a desejar a união com o corpo místico de Jesus Cristo, e que aumentem no amor para com aquela que tem amor de Mãe para com os membros do mesmo augusto corpo. E também é lícito esperar que, ao meditarem nos exemplos gloriosos de Maria, mais e mais se persuadam todos do valor da vida humana, se for consagrada ao cumprimento integral da vontade do Pai celeste e a procurar o bem do próximo. Enquanto o materialismo e a corrupção de costumes que dele se origina ameaçam subverter a luz da virtude, e destruir vidas humanas, suscitando guerras, é de esperar ainda que este luminoso e incomparável exemplo, posto diante dos olhos de todos, mostre com plena luz qual o fim a que se destinam a nossa alma e o nosso corpo. E, finalmente, esperamos que a fé na assunção corpórea de Maria ao céu torne mais firme e operativa a fé na nossa própria ressurreição.
[MD 41]

E compartilho um ótimo texto escrito por um amigo, o Gustavo Souza, que é uma síntese da festa hoje celebrada em toda a Igreja. Apenas saliento que o dogma hoje celebrado concerne somente à Assunção da Virgem, deixando (propositalmente) aberta a questão de se Maria morreu ou não “terminado o curso da vida terrestre”, que é quaestio disputata.

* * *

Assumpta est Maria in Caelum!

“Mas era preciso que aquela alma santíssima se separasse daquele corpo sacratíssimo. Deixou-o e uniu-se à alma de seu Filho, ela que era uma luz criada uniu-se à luz que não teve princípio. E o seu corpo, depois de ter ficado algum tempo debaixo da terra, também ele foi levado ao céu. Era preciso, com efeito, que ele passasse por todos os caminhos que o Salvador tinha percorrido, que resplandecesse para os vivos e para os mortos, que santificasse a natureza em todos os aspectos e que, em seguida, recebesse o lugar que lhe convinha. Por isso, o túmulo o abrigou durante algum tempo; depois, o céu acolheu aquela terra nova, aquele corpo espiritual, mais digno do que os anjos, mais santo do que os arcanjos. E o trono foi entregue ao rei, o paraíso à árvore da vida, o mundo à luz, a árvore ao seu fruto, a Mãe ao Filho; ela era perfeitamente digna, pois que ela o tinha gerado” (São Nicolau Cabasilas – 1320-1363 – teólogo leigo grego. Homilia sobre a Dormição da Mãe de Deus).

Celebramos hoje a Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, cujo calendário civil não prescreve como feriado esta gloriosa data, a celebração desta festa é transferida para o Domingo. Para mais amar, honrar e tornar conhecida a Santíssima Virgem, decidi escrever este pequeno resumo da Assunção.

O fato da Assunção de Nossa Senhora foi-nos transmitido pela Tradição da Igreja. Segundo uma antiga versão (disponível aqui), aos 72 anos, ocorreu a dormição de Nossa Senhora. Os apóstolos foram miraculosamente levados – todos! – a Jerusalém na noite anterior ao fato; os fiéis de Jerusalém, assim que souberam, acorreram ao lugar onde se encontrava o seu corpo para reverenciar e prestar as últimas homenagens à Mãe de Deus. Três dias depois da “morte” de Maria, conta-se que São Tomé (sim, ele mesmo, de novo!) pediu para ver o corpo. Ao removerem a pedra do túmulo, não encontraram a Virgem. Do túmulo, exalava um perfume maravilhoso, fragrância divina deixada presente, lembrança e sinal pela Rainha do Céu. Desse relato, não há uma linha sequer na Sagrada Escritura.

A festa foi instituída oficialmente, junto com a proclamação do Dogma da Assunção de Nossa Senhora, em 01 de novembro de 1950, pelo Santo Padre, o Papa Pio XII.

A data foi estabelecida com base nos escritos de São Jerônimo que afirma ter a Virgem sido elevada ao Céu no dia 18 das calendas de setembro – o que equivale a 15 de Agosto.

A lógica – mais consistente e simples – que justifica a dormição de Nossa Senhora é a seguinte: São Paulo afirma na Carta aos Romanos que a morte é o salário do pecado (6, 23). Como é sabido, a Virgem Santíssima não cometeu nenhum pecado (nem venial, nem mortal). Assim sendo, seria injusto que ela recebesse a recompensa por algo que não fez. Que morresse da exata mesma forma que os pecadores. Deus então, na sua infinita Bondade e Justiça, concedeu-Lhe [à Maria] uma “morte suave”, e como Lhe envolvesse num sono leve atraiu a Si o corpo e a alma da Virgem. Santo Agostinho enumera três razões para explicar a dormição e assunção de Nossa Senhora, a saber:

1 – Como foi Nossa Senhora que “outorgou” a Cristo a carne humana (carne essa que foi poupada da corrupção e da deterioração provocada pelos vermes), o corpo de Maria, com a Ressurreição de Jesus, participa da incorruptibilidade do corpo de Cristo;

2 – Mais do que qualquer outro corpo, o de Nossa Senhora foi autêntico Tabernáculo de Cristo. Deste modo, é mais digno e adequado guardar esse tesouro no Céu que na Terra;

3 – Para dar continuidade à integridade que a Virgem sempre preservou durante toda a sua vida. O Bispo de Hipona afirma: “a pena da corrupção não deve ser conhecida por aquela que não teve sua integridade corrompida quando gerou seu filho. Será sempre incorrupta aquela que foi cumulada de tantas graças, que viveu íntegra, que gerou vida em total e perfeita integridade, que deve ficar junto daquele a quem carregou em seu útero, a quem gerou, aqueceu, nutriu”. (Veja aqui o artigo fonte deste excerto)

Em resumo, Jesus quis honrar sua Sacratíssima Mãe elevando-a sobre todas as criaturas, e revestindo-a de glória e esplendor. E nós, Seus filhos por adoção, devemos também venerá-la para, seguindo os passos de São Luiz de Montfort, manifestar esta devoção que, segundo ele, é indispensável, não opcional, fundamental à vida cristã.

Rainha assunta ao Céu,
Rogai por nós!

Gustavo Souza

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