Feeds:
Posts
Comentários

Archive for the ‘História’ Category

– Vocações estão em alta, diz o jornal O Dia: 220 novos sacerdotes no ano passado, contra um média de 55 por ano na década de 90. Conclusão mais que evidente tirada pelo Luís Guilherme: “quanto mais se representa a fidelidade à Igreja e a sua tradição, mais atraente é para as vocações”. A firmeza atrai, como ele disse muito bem. Que Nossa Senhora cuide dos futuros sacerdotes.

Este texto traduzido pela Maite sobre “a morte da liturgia” (não, não tem a ver com o que o título dá a entender à primeira lida) é simplesmente belíssimo. A idéia de que há uma paulatina “poda” na Liturgia, a partir da Septuagésima até a Vigília Pascal, é fantástica e eu não havia pensado nisso ainda. Vejam:

“O Aleluia cessa na Septuagésima. Música e flores são abandonadas na Quarta-Feira de Cinzas. Hoje [no Domingo de Ramos], estátuas e imagens são envolvidas com um véu roxo. […] Depois da Missa da Quinta-Feira Santa o Santíssimo é removido do altar principal, que fica nu (a toalha é removida) e sinos são substituídos por matracas de madeira. Na Sexta-Feira Santa não há sequer Missa. No início da Vigília somos privados até de luz! É como se a Igreja mesma estivesse completamente morta com o Senhor em sua tumba”.

– Na semana passada, Iowa tornou-se o terceiro estado americano a legalizar o “casamento” gay. Hoje vi uma notícia dizendo que Vermont é o quarto – os parlamentares derrubaram o veto do governador. Os EUA estão caminhando a passos cada vez mais largos para o abismo. Deus tenha misericórdia dos Estados Unidos.

– Só indicando a leitura: o perfil do Marquês de Pombal. Trazendo à luz do dia a história do maçom, que não aprendemos nas aulas do segundo grau.

– Para os que não conhecem a já tristemente célebre história da péssima tradução para o português do Missal Romano, o Oblatvs publicou ontem uma muito didática comparação entre o original em latim, a versão em inglês e a versão em uso no Brasil. Rezemos! Pela fidelidade à Igreja desta Terra de Santa Cruz.

Read Full Post »

Para não esquecer:

Read Full Post »

[Dia desses, eu conversava com um amigo sobre a colonização do Novo Mundo; e, comentando sobre o papel desempenhado pelos jesuítas nesta Terra de Santa Cruz, lembrei-me de um poema de Castro Alves, que eu havia lido há algum tempo, precisamente sobre os jesuítas e no qual o poeta baiano os apresentava de uma maneira bem elogiosa e bem diferente do que, hoje, escutamos amiúde por aí. Trago-o à apreciação dos leitores.

Apesar do patente preconceito do poeta contra a Idade Média – natural, dado o Iluminismo do qual bebiam os românticos -, o poema serve de eloqüente testemunho histórico para se dizer o seguinte: mesmo um brasileiro nutrido com idéias iluministas e com rasgos de anti-clericalismo como Castro Alves não se abstém de falar em defesa dos clérigos que vieram ao Novo Mundo. Têm particular força essas palavras dirigidas aos Jesuítas e Frades: “O poeta americano / Vos deve amortalhar no verso soberano”…]

JESUÍTAS E FRADES

II

Que o mundo antigo s’erga e lance a maldição
Sobre vós… remembrando a negra Inquisição
A hidra escura e vil da vil Teocracia
O Santo Ofício, as provas, o azeite, a gemonia…
Lisboa, Tours, Sevilha e Nantes na tortura,
Na fogueira Grandier, João Huss na sepultura,
Colombo a soluçar, a gemer Galileu…
De mil autos-de-fé o fumo enchendo o céu…
Que a maldição vos lance à pena do gaulês
Tendo por tinta a borra das caldeiras de pez…
Que o germano a sangrar maldiz em férreos hinos.

É justo!…
A História cega, aquentando o estilete,
Nas brasas que apagar não pôde o Guadalete,
Tem jus de vos marcar com o ferro do labéu,
Como queima o carrasco o ombro nu do réu…

……………………………………………………………..

Mas enquanto existir o grande, o novo mundo
Ó filhos de Jesus!… um cântico profundo
Irá vos embalar do sepulcro no solo…
A América por vós reza de pólo a pólo!
Dizei-o, vós, dizei, Tamoios, Guaranis,
Iroqueses, Tapuias, Incas e Tupis…
A santa abnegação, o heróismo, a doçura,
O amor paternal, a castidade pura
Desses homens que vinham, envoltos no burel,
A derramar dos lábios o amor – divino mel,
O perdão – óleo santo, a fé – mística luz,
E o Deus da caridade – o pródigo Jesus!…

Oh! não! Mil vezes não! O poeta americano
Vos deve sepultar no verso soberano
– Pano negro que tem por lágrimas de prata
As lágrimas que a musa inspirada desata!!!

Se aqui houve cativos – eles os libertaram.
Se aqui houve selvagens – eles os educaram.
Se aqui houve fogueiras – eles nelas sofreram.
Se lá carrascos foram – cá, mártires morreram.
Em vez do inquisidor – tivemos a vedeta.
Loyola – aqui foi Nóbrega, Arbues – foi Anchieta!

Oh! não! Mil vezes não! O poeta americano
Vos deve amortalhar no verso soberano
– Pano negro que tem por lágrimas de prata
As lágrimas que a musa inspirada desata!…

……………………………………………………………..

[Alves, Castro, “Os Escravos”, pp. 116-117, Ed. L & PM, Porto Alegre, 2002]

Read Full Post »

Estando a dois dias neste desbaratamento, chegaram até nós nativos de Cuarnaguacar, que se haviam dado por nossos amigos, dizendo que os da provínciade Cuisco, que é terra muito grande, queriam ir sobre eles, destruí-los e depois virem sobre nós. Nós tínhamos mais necessidade de sermos socorridos do que de darmos socorro, mas como eles insistiam muito e como se haviam dado por vassalos de vossa majestade, não os podia deixar desamparados. Despachei com eles oitenta peões e dez a cavalo sob o comando de Andrés de Tapia e pedi que desse o máximo nessa luta e que voltassem dentro de dez dias. (…) Depois de destruírem tudo que encontraram no plano, os nossos voltaram para o acampamento, tendo feito tudo dentro do prazo de dez dias. Apenas dois dias depois de sua chegada, vieram até nosso acampamento dez índios otumíes, povo que também se havia dado por vassalo de vossa majestade, pedindo nossa ajuda para combater os de Matalcingo que não cessavam de lhes fazer guerra e que também queriam vir contra nós. Embora o povoado dos otumíes ficasse a vinte e duas léguas de distância e nós estivéssemos muito abatidos, eu não podia deixar de ajudar nossos aliados nem tampouco demonstrar fraqueza. Determinei a Gonzalo de Sandoval que fosse com cem peões e quinze a cavalo, mas apenas um balisteiro. (…) Com estas vitórias, Sandoval retornou ao acampamento.

Quatro dias depois da chegada de Gonzalo de Sandoval, os senhores das províncias de Matalcingo, Malinalco e de Cuisco vieram até nosso acampamento para pedir perdão pelo passado e se oferecer ao serviço de vossa majestade.

[Hernan Cortez, Carta ao Rei da Espanha de 15 de maio de 1522, in Cortez, Hernan, “A conquista do México”, pp 132-133. Ed. L & PM, 2ª Edição, Porto Alegre, 2008.]

Não me lembro muito bem das minhas aulas de história do segundo grau sobre a colonização da américa espanhola; lembro-me apenas de algumas vagas expressões negativas associadas via de regra aos espanhóis, como “invasores”, “genocídio”, “roubo de ouro”, “dizimação indígena” e coisas análogas. Aliás, até aposto que, colocando no google qualquer dessas expressões junto com o nome de Cortez, a quantidade de resultados será significante.

Não conheço a história do México. No entanto, passeando por uma livraria há uns dias, encontrei este pocket book sobre “A conquista do México”, cuja capa evoca os mesmos chavões sobre os quais fiz menção acima: uma espada espanhola ensangüentada, cravada numa escultura asteca. O subtítulo do livro diz “20 milhões de nativos mortos em trinta anos; este é o macabro saldo da conquista espanhola”. Enfim, nada me levaria a comprar este livro, não fosse o fato de serem as cartas originais enviadas por Hernan Cortez ao rei da Espanha.

E o Cortez que se apresenta nestas cartas está longe de ser o monstro genocida inescrupuloso sedento de sangue que nos foi apresentado no segundo grau (e, aliás, que é insinuado pela própria capa do livro). Claro, há algumas passagens que são de uma brutalidade capazes de chocar a mentalidade moderna, como  p. ex.:

[F]alei-lhe [a Montezuma, chefe asteca] a respeito do que eu ficara sabendo que ocorrera na cidade de Almería, onde, por ordem dele, haviam matado alguns espanhóis que ali estavam. O próprio senhor daquela cidade, Qualpopoca, confessou que como seu vassalo apenas cumpria suas ordens.

[…]

Passados vinte dias do aprisionamento [de Montezuma], chegaram aqueles que haviam ido buscar Qualpopoca, trazendo o cacique, os que haviam matado os espanhóis e mais quinze principais. (…) Perguntei [a Qualpopoca] se o que ali se havia passado fora mandado por Montezuma e eles confirmaram que sim. Mandei então queimar todos vivos, o que foi feito em uma praça, sem alvoroço nenhum. Depois mandei colocar algemas em Montezuma, o que ele recebeu sem espanto.

[op. cit., pp. 55-56]

Enquanto isso, o aguazil maior soube que em um povoado mais distante chamado Acapichtla havia muita gente de guerra dos inimigos e resolveu ir até lá. O povoado era situado num lugar alto, o que os deixava fora do alcance dos cavalos. Logo que os espanhóis chegaram, os do povoado começaram a pelejar com eles, lançando pedras e flechas. Sentiu o aguazil maior que só lhe restava tentar subir ao povoado ou morrer. E quis Deus dar-lhe tanta força que apesar da grande resistência conseguiram chegar até lá, embora tivessem muitos feridos. E como os índios nossos amigos os seguiram, foi tanta a matança que provocaram, que um pequeno rio que margeava aquele povoado ficou por mais de uma hora tingido de sangue, impedindo que as pessoas pudessem ali beber água, o que foi terrível pois fazia muito calor.

[op. cit., pp 109-110]

Mas isso me parece ser um tributo pago pelo espanhol à sua época. Duvido que houvesse então algum pacifista capaz de emitir uma condenação genérica a esta praxis (Las Casas é um caso à parte). Em suma: não me parece nada que Hernan Cortez seja um “monstro” para além da “crueldade” mediana de sua civilização. Condená-lo sumariamente por atos como os acima relatados é anacronismo.

Ao contrário, ele me parece uma personalidade admirável. Poderia citar incontáveis episódios: as missas assistidas antes das batalhas [“no dia marcado, como sempre fazíamos, ouvimos a missa e partimos”, p. 134], o ódio aos ídolos e a veneração aos santos [“os principais destes ídolos e nos quais eles tinham mais fé eu derrubei de seus assentos e os fiz descer escada abaixo. Fiz também com que limpassem aquelas capelas, pois estavam cheias de sangue dos sacrifícios que faziam. Em lugar dos ídolos mandei colocar imagens de Nossa Senhora e de outros santos, apesar da resistência de Montezuma e de outros nativos”, p. 63], a preocupação com as imagens dos santos mesmo em meio aos combates [“nossa primeira ação foi cercar a base da torre, onde, apesar de manter isolados os que estavam dentro, éramos atacados por todos os lados. Comecei a subir a escada sendo seguido pelos espanhóis. Eles conseguiram abater três ou quatro dos nossos, mas com a ajuda de Deus e de sua gloriosa mãe, cuja imagem havíamos colocado naquela torre, conseguimos subir (…). Mandei colocar fogo naquela torre e nas demais da mesquita, de onde já havíamos tirado as imagens que havíamos posto”, p. 77], os incontáveis perdões concedidos aos índios que passavam para o lado dos espanhóis [“e como viram que o dano que recebiam era considerável, fizeram sinal de que se entregavam e depuseram as armas. E como meu desejo é sempre dar a entender a esta gente que não queremos lhes fazer mal por mais culpados que sejam, especialmente quando se dispõem a ser vassalos de vossa majestade, mandei parar o ataque e os recebi bem. E por tê-los recebido muito bem, fizeram saber isto aos do outro penhasco, os quais, embora tenham resultado vitoriosos no combate conosco, também resolveram se dar por vassalos de vossa majestade e vieram me pedir perdão pelo passado”, p. 113], o pesar em destruir as cidades dos índios [“como tínhamos todas as terras ao redor a nosso favor e nossa determinação de atacar, não consegui entender como estes da cidade [Tenochtitlán, capital asteca] permaneciam irredutíveis em seu desejo de lutar até a morte, nos obrigando a ter que destruir aquela cidade que era a coisa mais bela do mundo”, p. 133], a ajuda concedida aos índios que a solicitavam [já citado acima, pp 132-133], etc.

Há só mais uma parte que eu gostaria de citar, sobre uma derrota que os espanhóis sofreram quando tentaram tomar o mercado principal de Tenochtitlán, durante o cerco à cidade. Ei-lo:

Neste desbaratamento em que nos envolvemos, os inimigos mataram trinta e cinco ou quarenta espanhóis, mais de mil índios nossos amigos e feriram mais de vinte cristãos, inclusive eu que saí ferido em uma perna. Também perdeu-se o tiro pequeno de campo que havíamos levado e muitas balistas, escopetas e outras armas. Todos os espanhóis que pegaram, vivos ou mortos, levaram para Tatebulco, que é o mercado. Ali os penduraram desnudos, abriram o peito e arrancaram o coração que ofereceram a seus ídolos. Os de Pedro de Alvarado puderam ver bem de perto o sacrifício dos corpos desnudos e brancos dos cristãos, tendo mergulhado em grande tristeza e desânimo e se retraído ao seu acampamento real, apesar de terem lutado muito bem aquele dia e quase conquistado o mercado, só não o conseguindo por vontade de Deus, que nos quis castigar por nossos pecados.

[op. cit., p. 131]

E este Hernan Cortez que consegue ver até nos reveses que sofre a “vontade de Deus, que nos quis castigar por nossos pecados” não existe nos livros de história. Não conheço, repito, a história do México; mas, lendo estas cartas de Hernan Cortez, parece-me claro que este capitão espanhol não é santo, mas tampouco é o demônio que nos apresentam no Ensino Médio.

Read Full Post »

[Fonte: Montfort]

GREGÓRIO X, BISPO, SERVO DOS SERVOS DE DEUS

Gregório, bispo, servo dos servos de Deus, estende saudações e bênção apostólica aos seus amados filhos em Cristo, os fiéis Cristãos, aqueles daqui e de hoje, e aqueles no futuro.

Por mais que não seja permitido aos judeus, em suas assembléias, presunçosamente, assumirem para si mais do que lhes é permitido por lei, ainda assim eles não devem sofrer nenhuma desvantagem nesses [privilégios] que lhes foram garantidos . Embora eles prefiram persistir em sua intransigência a reconhecer a palavra de seus profetas e os mistérios das Escrituras,  e, dessa maneira, chegarem ao conhecimento da Fé Cristã, e da salvação; contudo, porquanto eles fizeram um apelo à nossa proteção e ajuda, nós, portanto, admitimos tal petição e lhes oferecemos o escudo da nossa proteção pela clemência da piedade Cristã. Agindo de tal forma, nós seguimos os passos de nossos predecessores de abençoada memória, os papas de Roma – Calixto, Eugênio, Alexandre, Clemente, Inocêncio, e Honório.

Além disso, nós decretamos que nenhum Cristão deve compelir a eles ou qualquer um do grupo deles ao batismo, sem o desejo. Mas, se algum deles, por convicção, se refugiar entre os Cristãos, por sua própria vontade, após manifestar sua intenção, ele deverá ser feito Cristão sem nenhuma intriga. Porque, de fato, não se pode considerar que tenha a Fé Cristã, aquela pessoa que tenha se tornado Cristão coagido, sem vontade própria, nem desejo.

Ainda mais, nenhum Cristão deve atrever-se a apanhar, aprisionar, ferir, torturar, mutilar, matar, ou infligir qualquer violência a eles; além disto, exceto por ação judicial das autoridades do Estado,  ninguém deve atrever-se a mudar os bons costumes na terra em que vivem para o propósito de tomar o dinheiro ou bens deles ou de outros.

Ainda mais, ninguém deve perturbá-los de qualquer forma durante a celebração de seus festivais, seja de dia ou de noite, com paus, pedras, ou qualquer outra coisa. Também, ninguém deve extrair nenhum serviço compulsório deles, a não ser que tal serviço seja o que eles estejam acostumados a oferecer desde tempos anteriores.

Da mesma forma que os Judeus não podem prestar testemunho contra Cristãos, nós decretamos em adição que o testemunho dos Cristãos contra os Judeus não será válido, a não ser que existam entre estes Cristãos alguns Judeus que lá estejam com o propósito de oferecer o testemunho.

Já que ocorre que alguns Cristãos perdem suas crianças e os Judeus são acusados, por seus inimigos, de, secretamente, as levarem a força e matarem-nas, e, ainda, fazerem sacrifícios com o sangue e coração destas crianças. Ocorre, ainda, que os pais destas mesmas crianças, ou outros inimigos Cristãos destes Judeus, secretamente, escondem estas crianças com o intuito de poder fazer mal a tais Judeus, e, com isso, ter a possibilidade de extorquir deles certa quantia de dinheiro para redimi-los.

Falsamente, clamam tais Cristãos, que os Judeus, secretamente e furtivamente, tomam tais crianças e matam-nas, e que os Judeus oferecem sacrifícios com o coração e sangue de tais crianças, uma vez que a lei deles, a respeito desta matéria, precisa e expressamente, proíbe os Judeus a sacrificarem, comerem ou beberem o sangue e carne de animais que tiverem garras. Isso foi demonstrado várias vezes em nossa corte por Judeus convertidos à Fé Cristã; no entanto, muitos Judeus são apanhados e detidos injustamente por causa disto.

Nós decretamos, portanto, que os Judeus não precisam obedecer a Cristãos em uma situação como essa, e ordenamos que  todo Judeu aprisionado sob um pretexto tolo como esse  seja imediatamente libertado, e que eles não sejam presos de agora em diante sob tão miserável pretexto, a não ser que – o que não acreditamos que ocorra – sejam pegos enquanto cometam o crime. Decretamos que nenhum Cristão fomente nada novo contra eles, mas que eles devem ser mantidos no status e posição em que eles estavam na época de nossos predecessores, da antigüidade até agora.

Decretamos, para parar a malvadeza e avareza dos homens maus, que ninguém deve se atrever a devastar e destruir os cemitérios dos Judeus, ou desenterrar corpos humanos para ganhar dinheiro .

Ainda mais, se alguém, após ter tomado conhecimento do presente decreto, atentar – o que, esperamos, não ocorrerá – audaciosamente contra ele, sofra a punição em sua categoria e posição, ou, seja punido pela excomunhão, a não ser que faça reparações por sua ousadia por meio de devida compensação. Ainda, desejamos que somente os Judeus, os quais não tenham atentado em fazer nada visando a destruição da Fé Cristã, sejam fortificados pelo suporte de tal proteção.

Dado em Orvieto, pelas mãos do Mestre João Lectator, vice-chanceler da Santa Romana Igreja, no 7º dia de Outubro, no primeiro indicto , no ano de 1272 da Divina Encarnação, no I ano do pontificado de nosso mestre, o Papa Gregório X.

[Tradução: Marcos Vinicius Mattke. Texto original em latim no Vaticano].

[A presente tradução para língua portuguesa do Decreto de Proteção Papal aos Judeus não é a versão portuguesa oficial da Santa Romana Igreja, inexistente até o momento da presente tradução].

Read Full Post »

[Justificando: recentemente nos Estados Unidos, uma Universidade dos Jesuítas colocou crucifixos em todas as 151 salas de aula. O ato provocou imediatos horror e repulsa dos militantes laicistas de todos os naipes; em conseqüência, foi rapidamente divulgado um texto calunioso, chamado “A História Secreta dos Jesuítas”, da autoria de um ilustre desconhecido chamado Edmond Paris e que contém uma introdução do bem conhecido dr. Alberto Rivera, protestante mentiroso que alega ter sido jesuíta.

Como resposta, apresento um trecho – longo, reconhece-se facilmente, mas precioso – do livro “Brasil, País do Futuro”, da autoria de Stefan Zweig, escritor austríaco nascido em fins do século XIX, que me foi gentilmente enviado por um amigo, a quem agradeço. Espero que seja de serventia.]

Brasil, País do Futuro

História

É um fato decisivo para a História do Brasil ouvir a tempo el-Rei D. João III o brado de socorro, e a 1o. de fevereiro de 1549 enviar como governador geral Tomé de Souza. homem que já deu provas de seu valor em África e nas Índias, com a incumbência de em um qualquer lugar, de preferência na Bahia, fundar uma capital, de onde todo o território deverá ser administrado por um governo central.

Tomé de Souza, além do necessário funcionalismo, traz consigo seiscentos soldados e quatrocentos degredados, os quais todos mais tarde se vão domiciliar na cidade ou fora dela. Desembarca-se o material mais necessário para construir uma cidade, e imediatamente todos põem mãos à obra; em quatro meses é edificada uma muralha de fortificação para proteger o local, levantam-se casas e igrejas onde anteriormente existiam apenas míseras cabanas de barro. Instala-se no, por enquanto ainda muito provisório Palácio do Governo, uma administração para a colônia e outra para a cidade, e, como o mais evidente sinal de uma justiça, que afinal é introduzida e já é extremamente necessária, constrói-se um cárcere, primeira advertência de que se quer, no futuro, ordem rigorosa. Todos deverão sentir que já não são indivíduos abandonados, esquecidos, exilados e sem pátria, indivíduos sem direitos e deveres, mas sim que estão sujeitos às leis da pátria e sob a proteção delas. Com a fundação de uma capital e a constituição de um governo geral, o organismo do Brasil, até então apenas amorfo, adquiriu um coração e um cérebro.

Tomé de Souza traz consigo seiscentos soldados ou marinheiros e quatrocentos degredados, ao todo mil homens, com armaduras ou com camisas de trabalho. Mais importantes do que esses mil homens, cujo valor está nos braços e na força, serão para o destino do Brasil os seis homens de batinas pretas e singelas que o rei enviou com Tomé de Souza para direção e conselho espirituais. É que esses seis homens trazem o que de mais precioso um povo e uma terra necessitam para sua existência, trazem uma idéia, a idéia verdadeiramente criadora do Brasil. Esses seis jesuítas possuem uma energia nova e que ainda absolutamente não foi gasta, pois sua ordem é nova e está cheia do santo fervor de dar provas do seu objetivo. Ainda vive o seu fundador, Inácio de Loyola; ainda sua vontade ascética, sua férrea energia pensante e o entusiasmo perfeitamente consciente de seu objetivo lhes dão o exemplo visível da auto-disciplina; como em todos os movimentos religiosos, nos jesuítas a intensidade espiritual e a pureza de costumes, nos primeiros anos, e antes do verdadeiro êxito, se acham no mais alto grau. Em 1550 os jesuítas ainda não constituem um poder espiritual, secular, político e econômico, como nos séculos ulteriores, — e toda forma de poder diminui a pureza moral de um ente humano, como a de um partido. Sem posses, tanto os indivíduos como a ordem, personificam eles só uma determinada, vontade, portanto um elemento ainda de todo espiritual, ainda não inteiramente imiscuído no que é secular. E chegam na melhor hora, pois para sua grandiosa concepção, a de, por meio de campanhas espirituais, restabelecer a unidade religiosa do mundo, o descobrimento de um novo continente representa um lucro inaudito. Desde que, em 1519, na dieta de Worms, o feroz alemão ateou a guerra religiosa mundial, mais de um terço, quase a metade da Europa, já abandonou a Igreja, e o catolicismo, outrora a “ecclasia universalis”, está quase reduzido a uma posição de defesa. Que vantagem, pois, se fosse possível conquistar, a tempo, para a velha e verdadeira fé, os novos mundos que de repente surgiram, e com isso se pudesse criar como que uma segunda e mais larga frente atrás da primeira! Como os jesuítas nada exigem, nenhum salário, nenhuma preferência el-Rei D. João III aprova-lhes a intenção de conquistarem essa nova terra para a religião e permite que seis desses soldados de Cristo acompanhem a expedição. Mas, na realidade, esses seis homens não se limitarão a acompanhar, irão dirigir.

Com esses seis homens começa algo de novo para o Brasil. Todos que antes deles chegaram ao Brasil, fizeram-no em cumprimento de ordem ou vítimas da violência, ou refugiados; quem até então desembarcava na costa do Brasil queria tirar alguma coisa desta terra, madeira ou frutos, ou aves, ou minérios, ou entes humanos; nenhum deles pensara em uma retribuição à terra. Os jesuítas são os primeiros que nada querem para si e tudo querem para esta terra. Trazem consigo plantas e animais para cultivar o solo; trazem medicamentos para curar os enfermos, livros e instrumentos a fim de ensinar os incultos; trazem sua crença e a disciplina de costumes estabelecida pelo seu mestre; trazem, sobretudo, uma idéia nova, a maior idéia de colonização existente na História. Antes deles, entre os povos bárbaros, e, ao lado deles, sob o regime espanhol, colonizar significava exterminar os aborígenes, ou transformá-los em animais; descobrimento, para a moral dos conquistadores do século dezesseis era igual a conquista, subordinação, sujeição, privação de direitos, escravização. Eles, ao contrário, como “os únicos homens disciplinados de seu tempo”, conforme diz Euclides da Cunha, passando por cima desse processo de colonização pelo roubo, pensam no processo de edificação por meios morais, pensam nas gerações vindouras e, desde o primeiro instante, estabelecem na nova terra a equiparação moral de todos entre si. Precisamente porque a população aborígene vive num nível baixo, não deve ser ainda mais rebaixada, reduzida à animalidade e à escravidão, mas sim elevada à condição de seres humanos e conduzida, pela mão do cristianismo, à civilização ocidental: nesta terra deve desenvolver-se uma nação nova, por cruzamento e educação. A essa idéia fecunda deve, afinal de contas, o Brasil ter-se tornado, dum conglomerado dos mais diversos elementos, um organismo, e dos elementos mais evidentemente opostos entre si, uma unidade.

Os jesuítas, está claro, sabem que uma tarefa de tal importância não poderá realizar-se imediatamente. Não são sonhadores vagos e confusos e seu mestre Inácio de Loyola não é nenhum Francisco de Assis, que acredita numa suave fraternidade entre os homens. São realistas, e, graças a seus exercícios, sabem dia a dia refortalecer a sua energia, para vencerem no mundo a imensa resistência das fraquezas humanas. Sabem que a sua tarefa é perigosa e demorada. Mas precisamente o fato de absolutamente visarem, desde o começo, um alvo longínquo, colocado a séculos de distância, na eternidade, distingue-os tão grandiosamente dos funcionários da Coroa e dos guerreiros que querem para si e para a pátria lucros imediatos e visíveis. Os jesuítas sabem perfeitamente que serão necessárias gerações e gerações para que se complete esse processo de “abrasileiramento” e que cada um deles que arrisca a vida, a saúde e as forças nesse começo, jamais verá os menores resultados de seus esforços. É um trabalho penoso, de semeadura, que eles começam, é um empreendimento árduo e, na aparência, sem esperança. Mas o ter ele início numa terra de todo inculta e numa terra sem limites aumenta-lhes a energia, em vez de a diminuir; assim como a vinda oportuna dos jesuítas é para o Brasil uma sorte, o Brasil é, por sua vez, uma sorte para eles, porque é a oficina ideal para seu apostolado. Só pelo fato de ninguém no Brasil haver atuado antes deles, e ninguém atuar a seu lado, podem eles aqui realizar em toda extensão uma experiência de importância histórica. Matéria e espírito, substância e forma, uma terra deserta, inteiramente inorganizada e um método de organização ainda não experimentado combinam-se para criar algo novo e vivo.

Uma felicidade especial nesse ditoso encontro de uma poderosa tarefa com uma energia ainda mais poderosa, que se prepara para realizá-la, é a presença de um verdadeiro chefe. Manuel da Nóbrega, a quem a incumbência, recebida de seu provincial, de seguir para o Brasil nem dá tempo de ir a Roma receber instruções pessoais do superior geral da Companhia, Inácio de Loyola, está na plenitude de seu vigor. Conta trinta e dois anos e estudou na Universidade de Coimbra, antes de haver ingressado na Companhia. Mas não é seu especial saber teológico que lhe confere grandeza histórica, e sim sua enorme energia e sua força moral. Nóbrega — que é estorvado por um defeito no falar — não é como Vieira um grande pregador, nem como Anchieta um grande escritor. É, antes de tudo, um lutador, na concepção de Loyola. Nas expedições para libertar o Rio de Janeiro ele é a força impulsiva do exército e o conselheiro estratégico do governador geral; na administração revela as capacidades ideais de um organizador genial, e à clarividência que se sente em suas cartas, junta uma energia heróica que faz não temer sacrifício algum de si próprio. Somadas apenas as viagens de inspeção que naqueles anos empreendeu ele do norte para o sul, do sul para o norte e através do território, já elas encerram centenas e quiçá milhares de noites cheias de preocupações e de perigos. Em todos aqueles anos é ele governador ao lado do governador, mestre dos mestres, fundador de cidades e pacificador, e não há acontecimento importante na História do Brasil daquela época a que não esteja ligado o seu nome. A reconquista do porto do Rio de Janeiro, a fundação de São Paulo e Santos, a pacificação das tribos inimigas, a criação de colégios, a organização do ensino e a libertação dos aborígenes são sobretudo obra sua. Por toda parte era Nóbrega o iniciador; podem seus discípulos e sucessores, de Anchieta a Vieira, ter-se tornado mais populares do que ele no Brasil, mas não fizeram mais do que desenvolver idéias dele; onde construíram, já encontraram os alicerces. Na História do Brasil, essa “obra sem exemplo na História”? foi a mão de Nóbrega que escreveu a primeira página, e todos os traços feitos por essa mão enérgica e firme permaneceram indeléveis até o presente.

* * *

Os primeiros dias após a chegada dedicam os jesuítas a tomar conhecimento da situação. Antes de ensinar querem aprender, e imediatamente um deles trata de, o mais depressa possível, aprender o idioma dos aborígenes. Já à primeira vista se vê que estes ainda se acham no mais baixo grau da época nômade. Andam inteiramente nus, não conhecem o trabalho, não possuem ornamentos, nem os mais primitivos utensílios. O de que precisam para comer tiram das árvores ou dos rios; logo que consomem tudo o que encontram numa região, mudam-se para outra. Constituem uma raça de boa índole e mansa; guerreiam-se entre si, apenas para fazerem prisioneiros, que devoram no meio de grandes solenidades. Mesmo esse uso canibalesco, porém, não deriva de uma especial crueldade de sua natureza; ao contrário, esses bárbaros dão ainda uma de suas filhas ao prisioneiro como esposa e o tratam muito bem até matá-lo. Quando os sacerdotes tentam desabituá-los do canibalismo, esbarram mais com admiração, da parte deles, do que com verdadeira resistência, pois esses selvagens ainda vivem fora de toda noção de civilização ou de moral, e devorar prisioneiros para eles não significa senão um prazer tão inocente como beber, dançar ou dormir com mulheres.

Esse ínfimo grau do modo de viver parece a princípio um obstáculo invencível para a obra dos jesuítas, mas, na realidade, facilita-lhes a tarefa. Como essas criaturas nuas não possuem idéias religiosas ou morais, é muito mais fácil incuti-las nelas do que em povos em que já domina um culto próprio e em que magos, sacerdotes e xamanes com indignação se opõem ao missionário. A população aborígene do Brasil, ao contrário, é, como diz Nóbrega, um “papel em branco” que macio e dócil aceita a nova prescrição e acolhe todo ensino. Por toda parte os aborígenes recebem sem nenhuma desconfiança os “brancos”, os sacerdotes: “Onde quer que vamos, somos recebidos. com grande boa vontade”. Sem hesitação deixam que eles os batizem e de boa vontade e gratos seguem — e por que não? — os sacerdotes, os “brancos bons”,. que os protegem contra os outros, os “brancos maus”. Naturalmente os jesuítas, como realistas experimentados e sempre atentos, sabem que esse assentimento. indolente e irrefletido, que o ajoelhar-se e o persignar-se de canibais, absolutamente ainda não é verdadeiro cristianismo; mesmo no mais célebre defensor de sua missão em São Paulo, em Tibiriçá, observam-se às vezes reincidências no canibalismo. Os jesuítas não esperdiçam o tempo com estatísticas ostentadoras relativas às almas já conquistadas; sabem que sua verdadeira tarefa está no futuro. Em primeiro lugar é preciso apenas fazer com que essas massas nômades se fixem em sítios, para que se possa tomar conta de seus filhos e dar-lhes instrução. A atual geração, canibalesca, esta já não é possível civilizar de fato. Mas será facil educar, de acordo com a civilização, as crianças, portanto as gerações vindouras. Por isso, para os jesuítas, o mais Importante é criar escolas em que, muito previdentemente, começam com aquela idéia de mescla sistemática que fez do Brasil uma unidade e que sozinha o manteve como unidade. Conscientemente reúnem crianças das choças dos selvagens com os mestiços, já numerosos, e insistentemente solicitam que enviem crianças brancas de Lisboa, ainda que sejam apenas as crianças abandonadas, desamparadas, que são apanhadas nas ruas de Lisboa. Todo elemento novo que favoreça a mescla, é bem recebido por eles, mesmo o constituído pelos — “moços perdidos, ladrões e maus que aqui chamam de patifes”. Eles têm interesse em criar os mestres do povo por meio do próprio sangue do povo, pois os aborígenes no ensino religioso confiam mais nos irmãos da mesma cor ou de cor mesclada, do que nos estrangeiros, nos brancos. Ao contrário dos outros, os jesuítas pensam exclusivamente nas gerações vindouras; realistas e calculistas exatos e clarividentes, são os únicos que têm uma visão verdadeira do Brasil futuro, e, ainda antes que qualquer geógrafo tenha idéia da vastidão desta terra, eles pautam seu trabalho por um padrão exato. O que eles fazem é um plano de campanha para o futuro, e o objetivo desse plano, que permanece fixo através dos séculos, é a constituição desta nova terra no sentido duma única religião, dum único idioma, duma única idéia. Haver sido alcançado esse objetivo é um motivo de eterna gratidão do Brasil a esses missionários que tiveram a idéia de fazer dele uma nação.

* * *

A verdadeira resistência com que em seu grandioso plano de colonização, esbarram os jesuítas, não provém, como a princípio poderia esperar-se, dos aborígenes, dos selvagens, dos canibais, e sim dos europeus, dos cristãos, dos colonos. Até então, para aqueles soldados evadidos, marinheiros desertados, para os degredados, o Brasil era um paraíso exótico, uma terra sem lei, sem restrições e deveres, uma terra em que podia cada um fazer e deixar de fazer o que bem lhe aprouvesse. Sem serem seriamente importunados pela justiça ou pela autoridade, podiam eles permitir-se livre curso aos instintos desregrados; o que na pátria era punido com grilhões e ferrete, no Brasil era considerado prazer permitido, de acordo com a doutrina dos conquistadoras:- “Ultra equinoxialem non peccatur”. Eles se apossavam de terras, onde quisessem e na quantidade que quisessem; capturavam aborígenes onde quer que os encontrassem e, a chicote, os obrigavam a trabalhar. Apossavam-se de toda mulher que encontravam, e o enorme número de mestiços patenteou, em breve, a difusão dessa poligamia desenfreada. Não havia ninguém para lhes impor autoridade, e, por isso, cada um desses indivíduos que, em sua maioria, ainda traziam nas espáduas as marcas do ferrete da casa de correção, vivia, como um paxá, sem se importar com direito e religião e, sobretudo, sem jamais mover as mãos para realmente trabalhar. Ao invés de civilizarem a terra, aqueles primeiros colonos mesmos estavam asselvajados.

Impor disciplina àquela corja brutal, habituada ao ócio e à violência, é tarefa árdua. O que mais horroriza aos piedosos sacerdotes é a desenfreada poligamia e a devassidão. Mas, doutra parte, como culpar esses homens de viverem aqui em concubinato, se não têm eles possibilidades de casar legalmente e constituir família? Como constituírem família, base única da sociedade, se aqui não há mulheres brancas? Por isso, Nóbrega insiste junto a el-Rei para que de Portugal envie mulheres: “Mande Vossa Alteza mulheres órfãs, porque todas casarão”. E como não é de esperar que os fidalgos de Portugal mandem suas filhas para essas terras longínquas, a fim de que procurem elas esposo entre esses devassos, Nóbrega, em sua grande nobreza de espírito, chega a pedir ao rei que envie também as jovens decaídas, as meretrizes das ruas de Lisboa. No Brasil todas encontrariam esposo. Após algum tempo as autoridades religiosas e seculares conseguem estabelecer certa ordem nos costumes. Mas na colônia inteira esbarram eles com uma resistência encarniçada: com a questão da escravidão, que do começo ao fim, de 1500 até quase 1900, é o ponto nevrálgico do problema brasileiro. A terra precisa de braços e não os há aqui em quantidade suficiente. Os poucos colonos não bastam para plantar cana e para trabalhar nos engenhos. Ademais, esses aventureiros e conquistadores não vieram para esta terra tropical, a fim de aqui trabalhar de enxada e pá. Querem aqui ser senhores; por isso, resolvem a dificuldade, apanham os aborígenes como os caçadores apanham lebres e, a chicote, os fazem trabalhar, até que os infelizes caem sem forças. A terra pertence-lhes, argumentam esses aventureiros, com tudo que existe em cima e em baixo dela, portanto lhes pertencem também todos aqueles animais bípedes de cor escura; é-lhes indiferente que esses pereçam ou não no trabalho; para substituir um que morre, vão buscar na alegre caça de índios sessenta outros, e ela constitui um divertido esporte.

Contra essa cômoda idéia intervêm então, energicamente, os jesuítas, pois a escravidão com o despovoamento da terra vai diretamente contra seu plano grandioso e bem traçado. Não podem tolerar que os colonos reduzam os aborígenes a animais de trabalho, porque eles, discípulos de Loyola, impuseram a si, precisamente como a mais importante tarefa, conquistar esses selvagens para a fé, para a terra e para o futuro. Todo aborígene lívre é-lhes um ser necessário para o povoamento e para a civilização. Ao passo que é do interesse dos colonos atiçar as diferentes tribos a constantes combates entre si, a fim de que elas depressa se exterminem e, após toda luta, possam ser comprados os prisioneiros como mercadoria barata, procuram os jesuítas conciliar as tribos entre si e isolá-las umas das outras, no vasto território, por meio do estabelecimento de povoados. O aborígene, como futuro brasileiro e cristão conquistado, constitui para eles a substância talvez mais preciosa desta terra, substância mais importante do que a cana, o pau-brasil e o fumo, por causa dos quais ele é escravizado e exterminado. Como o alimento essencial, o alimento querido por Deus, querem eles colocar na gleba esses entes humanos ainda incultos, como o fazem com os frutos e as plantas que consigo trouxeram da Europa, em vez de permitir que eles depereçam e se asselvagem ainda mais. Expressamente exigem, pois, do rei que seja determinada a liberdade dos aborígenes; segundo o plano dos missionários, não deverá haver no Brasil futuro uma nação de senhores, de brancos, e uma nação de escravos, de escuros, mas sim apenas um povo único e livre, numa terra livre.

Sem dúvida, mesmo uma carta e uma ordem régias a três mil milhas de distância perdem muito de sua força imperiosa, e uma dúzia de sacerdotes, dos quais a metade se acha sempre percorrendo o território em viagens de missões sem repouso, é muito fraca contra a vontade interesseira da colônia. Para salvarem ao menos uma parte dos aborígenes, têm os jesuítas que transigir na questão dos escravos. Têm que concordar em que sejam escravos dos colonos os índios feitos prisioneiros em lutas “justificadas”, isto é, em lutas de defesa contra os aborígenes, e naturalmente essa cláusula do acordo encontra a mais flexível e elástica interpretação. Além disso, a fim de não serem inculpados de impossibilitarem o progresso rápido da colônia, vêem-se na contingência de aprovar a importação de negros da África. Mesmo esses homens de espírito elevado e humanitário não podem subtrair-se à opinião da época, para a qual o escravo negro é — evidentemente uma mercadoria como o algodão ou a madeira. Nessa época, em Lisboa, uma capital européia, já existem dez mil escravos negros. Nessas condições, por que não permitir que a colônia também os possua? Até os próprios jesuítas se vêem na necessidade de adquirir negros para si; com todo o sangue frio declara Nóbrega que adquiriu três escravos e algumas vacas para o primeiro colégio. Mas os jesuítas se mantêm firmes e inflexíveis no princípio de que os aborígenes não podem ser caça livre para qualquer aventureiro que aqui chegue; eles defendem cada um dos seus neófitos, e essa inflexibilidade com que lutam pelo direito dos brasileiros de cor, será a sua desgraça. Nada tornou tão difícil a situação dos jesuítas no Brasil quanto essa luta pela idéia brasileira do povoamento e da nacionalização do território por meio de homens livres, e com tristeza. reconhece isso um deles, quando escreve: “Teríamos vivido muito mais tranqüilos, se só houvéssemos ficado nos colégios e nos houvéssemos limitado a unicamente prestar Serviço religioso.” Mas o fundador da Companhia não fora em vão soldado; educara seus discípulos para a luta por uma idéia. E essa idéia eles trouxeram com suas vidas para a nova terra: a idéia de nacionalizar o Brasil.

* * *

Ter Nóbrega, em seu plano de conquista do futuro império, reconhecido imediatamente o ponto exato em que deveria ser lançada a ponte para o porvir, revela que grande estrategista era ele. Pouco depois de sua chegada à Bahia, criou sua primeira escola, e com os padres que posteriormente chegaram visitou, em viagens penosas e fatigantes, todo o litoral, desde Pernambuco até Santos, e fundou casa em São Vicente. Mas ainda não encontrou o ponto conveniente para o colégio principal, para o centro espiritual e religioso que pouco a pouco deverá atuar sobre todo o território. À primeira vista essa procura cuidadosa, bem deliberada, dum conveniente fulcro, é incompreensível. Por que não transfere Nóbrega seu quartel general para a Bahia, a capital, a sede do Governo e do Bispado? Mas nesse ponto percebe-se, pela primeira vez, um antagonismo oculto que com o tempo se vai tornar patente e, afinal, até violento. A Companhia de Jesus não quer começar essa obra sob as vistas do Estado e nem mesmo do Papa; desde o começo têm os jesuítas em relação ao Brasil um problema e um objetivo mais elevado do que serem aqui apenas um elemento colonizador, com função de ensino e de auxílio, subordinado à Coroa e à Cúria. O Brasil para eles é um objeto de experiência decisiva, um objeto para a primeira prova da capacidade de realização da força organizadora da Companhia de Jesus, e Nóbrega di-lo sem rodeios: “esta terra é nossa empresa”, e com isso quer dizer: somos responsáveis pela sua realização perante Deus e a humanidade. Os jesuítas tinham, sem dúvida, um objetivo especial, examinado a fundo por eles e não inteiramente perceptível pelos outros. Eis o motivo da desconfiança oculta que os acompanhou no Brasil, desde o começo, através da História. O que, consciente ou inconscientemente, se esforçam por conseguir, não é apenas a formação duma colônia portuguesa entre todas as outras colônias portuguesas, mas sim a duma comunidade teocrática, dum tipo novo de Estado, não sujeito às forças do dinheiro e do poder, como tentaram mais tarde criar no Paraguai. Desde o primeiro instante quiseram com o Brasil criar algo sem par, algo novo, algo de modelo, e uma concepção como essa teria de entrar, mais cedo ou mais tarde, em conflito com as idéias mercantis e feudais da corte portuguesa. Certamente não pensavam em se apossar do Brasil com o intuito de dominá-lo e explorá-lo para sua Companhia e para os fins desta, como afirmam seus inimigos.

Que, porém, eles queriam, em relação ao Brasil, mais do que serem aqui apenas pregadores do Evangelho, que com sua presença queriam implantar e realizar aqui mais e alguma coisa diferente do que realizavam as outras ordens, sentiu-o desde logo o Governo, que, agradecido, se servia deles, mas os vigiava com uma leve suspeita, sentiu-o a Cúria, que não estava disposta a dividir sua autoridade espiritual com ninguém, sentiram-no os colonos, que em sua colonização meramente interesseira se consideravam estorvados pelos jesuítas. Exatamente porque não queriam nada de visível, mas sim a realização dum princípio espiritual, idealista e, portanto, incompreensível para as tendências da época, tiveram os jesuítas desde o começo, constante oposição contra si, a qual, por fim, haveria de vencê-los, expulsando-os da terra em que, apesar de tudo e de todos, plantaram a semente fecunda. Foi, portanto, muito bem deliberadamente que Nóbrega, a fim de evitar, por maior tempo possível, esse conflito de competições, quis estabelecer sua Roma, sua capital espiritual, longe da sede do Governo e do Bispado; só onde ele pudesse atuar sem ser impedido e vigiado, poderia dar-se aquele processo lento e laborioso de cristalização que ele não perdia de vista. Essa transferência do centro de ação do litoral para o interior importa, tanto no ponto de vista geográfico, como no do objetivo de catequese, numa vantagem bem considerada. Só uma encruzilhada do interior, protegida, pela cadeia de montanhas, contra agressões de piratas vindos do mar e, apesar disso, próxima do oceano, mas também próxima das diversas tribos que tinham que ser conquistadas para a civilização e cuja vida nômade tinha de ser transformada em vida de sede fixa, poderia ser a célula germinativa ideal.

A escolha de Nóbrega recai em Piratininga, a cidade de São Paulo de hoje, e a evolução histórica ulterior revelou a genialidade de sua decisão, pois a indústria, o comércio e o espírito empreendedor do Brasil, ainda após centenas de anos, seguiram sua escolha inspiradora. No mesmo local em que ele com seus auxiliares, a 25 de janeiro de 1554, levantou aquela “paupérrima e estreitíssima casinha”, acha-se boje uma grande capital moderna, com seus arranha-céus, fábricas e ruas movimentadíssimas. Nóbrega não poderia ter feito melhor escolha. O clima desse planalto é temperado, o solo é fértil, existe perto dali um porto, e rios garantem a comunicação com grandes cursos d’água, com o Paraná e o Paraguai, e por meio destes com o Rio da Prata; de Piratininga podem os missionários avançar em todas as direções para as diversas tribos e fazer irradiar sua obra de catequese. Além disso, não há por enquanto nenhuma colônia de degredados corruptora das costumes, na proximidade da pequena povoação, a qual sabe logo conquistar por meio de pequenos presentes e bom trato a amizade das tribos vizinhas. Sem muita dificuldade os aborígenes deixam que os sacerdotes os reunam para formarem pequenas aldeias, para constituírem aqueles comunidades, muito semelhantes às coletividades russas de hoje, e pouco tempo depois já pode Nóbrega dizer: “Vai-se fazendo uma formosa povoação”. A Companhia ainda não possui, como mais tarde, ricos bens de raiz, e os parcos meios a princípio apenas permitem a Nóbrega desenvolver o colégio em pequenas proporções. Mas, em todo caso, em breve se forma no colégio uma série de sacerdotes, brancos e de cor, que, uma vez aprendido o idioma dos selvagens, vão como missões volantes de tribo a tribo, a fim de as irem tirando da vida nômade e conquistando para a fé. Acha-se estabelecido um entroncamento, a primeira “escola para muitas nações de índios”, e rapidamente se forma entre o missionário e as tribos domiciliadas um sentimento leal de solidariedade. Por ocasião do primeiro assalto por bandos errantes, já são os recém batizados que, com devotado sacrifício, sob o comando de seu chefe Tibiriçá, repelem o ataque. A grande experiência de povoamento de orientação religiosa, que depois na república jesuítica do Paraguai vai ter a sua criação sem par, está iniciada.

Mas a fundação de Nóbrega constitui também um grande progresso no ponto de vista nacional. Pela primeira vez se estabelece certo equilíbrio para o futuro Estado. Ao passo que até então o Brasil era propriamente apenas uma faixa de litoral com suas três ou quatro cidades marítimas no norte, as quais comerciavam exclusivamente com produtos tropicais, começa então também no sul e no interior a desenvolver-se a colonização. Em breve essas energias que lentamente foram reunidas, de modo fecundo avançarão para o interior e, por curiosidade própria e sofreguidão, irão explorar terras e rios, em toda extensão. Com a primeira povoação disciplinada do interior a idéia preconcebida já se transformou em ação.

Read Full Post »

– Uma TV israelense levou ao ar um programa “humorístico” blasfemo, no qual eram ofendidos Jesus e Maria. A Santa Sé protestou imediatamente; o Estado de Israel aquiesceu ao pedido do Vaticano e censurou o programa de televisão. As relações entre o Vaticano e Israel parecem ir bem.

– O Governo da Argentina expulsou Dom Williamson do país; em todo o mundo, líderes judaicos comemoraram. Segundo o presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald Lauder, a decisão é louvável “porque o governo argentino deixa muito claro que os negadores do Holocausto não são bem-vindos no país”, mas, segundo as autoridades argentinas, o motivo da expulsão foram problemas com o Ministério do Interior; o bispo teria declarado “ser um empregado administrativo da Associação Civil La Tradición, quando sua verdadeira atividade era a de sacerdote e diretor do Seminário que a Fraternidade São Pio 10° possui na cidade de Moreno”. As relações entre os judeus e Dom Williamson parecem ir mal.

– Dom Williamson retratou-se de suas declarações – que provocaram mal-estar – sobre o Holocausto; no entanto, e nada surpreendentemente, os judeus não aceitaram. Segundo eles, “Williamson não se retratou de suas teses mentirosas sobre o Holocausto. Só lamentou que o que disse tenha gerado tanta polêmica”. Óbvio. O que mais Dom Williamson poderia ter dito? A censura judaica sobre a discussão histórica está ultrapassando todos os limites do tolerável. As relações entre os judeus e Dom Williamson parecem estar indo muito mal. Espero que esta tensão não seja elevada às instâncias superiores, e não comprometa as relações entre Israel e a Santa Sé. Afinal, Israel é maior do que alguns judeus birrentos; e a Igreja evidentemente não é Dom Williamson.

Read Full Post »

– Não lembro (perdoem-me a minha amnésia pós-carnaval) se já linkei isto aqui antes, mas este texto de um jornal português sobre “Excomunhão e Tolerância” ilustra bem o que se pode falar sobre o caso Williamson. Muitíssimo feliz o autor na forma utilizada para criticar a censura anti-qualquer-coisa-referente-ao-Holocausto:

Num mundo que gosta de se anunciar sem preconceitos e repudia a censura, existe um bloqueio drástico sobre o Holocausto. Comentar o horror nazi não pode ser feito fora da versão oficial. São admitidas todas as opiniões, menos essa. O pior é a forma inquisitorial, fanática e abespinhada com que o assunto é enfrentado. Quem nega as câmaras de gás deveria ser tratado com um sorriso pela ignorância e uma gargalhada pela tolice. Hoje o disparate é tanto que não merece mais. Em vez disso todos estes democratas e republicanos, supostamente tolerantes, condenam da forma mais persecutória o Papa por ele terminado o castigo canónico. Parece que Williamson devia ser excomungado de novo, agora não por insubordinação mas por opinião histórica. E Bento XVI também, mesmo não concordando com ele.

– Dois textos do Heitor de Paola sobre o aborto: “Alguns mitos e fatos científicos no debate sobre o aborto” e “Quando começa a vida”. Excelentes, porque argumentam sob uma ótica estritamente científica, evitando ao máximo (julgo eu, propositalmente) qualquer referência ética ou religiosa a fim de que o discurso seja assimilável por qualquer um e se evitem as cretinas acusações de “ingerência religiosa” e “estado laico” e blá-blá-blá. Do segundo:

[É] inevitável concluir que o aborto é uma espécie de homicídio, ou filicídio, de um ser já com individualidade que tem, in potentia, todas as condições de se desenvolver plenamente. Qualquer decisão, seja pessoal, seja jurídica, não deve evitar este conhecimento.

– Mais do Krause: uma tréplica ao artigo de Lucas Camarotti, no Jus Navigandi. A tréplica chama-se Laicismo antimetafísico e o colapso do Ocidente. O cara é muito bom! Excerto:

Tal conceito [de “laicidade ateu e materialista”], além de insustentável do ponto de vista lógico, é propugnado por uma fragorosa minoria, ainda que influente na sociedade. Nele, vislumbra-se a aversão às religiões positivas e a aversão à metafísica, tão cara aos grandes filósofos gregos. Por melhor que seja Richard Rorty, estou certo de que, diante de Aristóteles, que tanto se preocupou com a “filosofia primeira”, posteriormente denominada “metafísica”, ele é um menino de colo.

– O Gustavo teceu uns comentários sobre o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação. A matéria completa está lá (para quem tiver estômago); os comentários sensatos do meu amigo, intercalados ao longo do texto, ajudam a torná-lo menos indigesto.

Querer “desenvolver” (isto é: inventar) uma teologia que sirva às nossas pretensões é desonestidade. É como iniciar uma pesquisa científica com uma conclusão pré-fabricada; é ir a campo querendo apenas coletar dados que corroborem o resultado que se quer obter

– O Marcio colocou no Tubo de Ensaio um texto longo, mas que vale muitíssimo a pena, sobre a controvérsia na qual esteve envolvido Galileo; trata-se de uma resenha de um livro publicado recentemente no Brasil pela Loyola. Recomendo fortemente, por ser um compêndio bem interessante e completo (tanto quanto é possível) sobre o assunto.

O tempo mostrou que Galileu tinha razão – mas as descobertas recentes sobre seu processo desmentem vários mitos e mostram que é impossível dividir os personagens do episódio em mocinhos e bandidos. Então, por que ainda hoje existem pessoas (inclusive professores) que continuam a afirmar coisas como “Galileu foi morto na fogueira”? “Quem tem algum preconceito contra a Igreja vai perpetuar os mitos porque sequer vai procurar conhecer os fatos, ou os argumentos contrários. Enquanto o mundo for mundo, essa postura permanecerá”, avalia dom Sérgio.

Read Full Post »

[Fonte: Brasil Imperial]

A Princesa Isabel – 160 anos

Palestra de S.A.I.R o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança
16 de agosto de 2006 – sede da Pró Monarquia

Atendi com muito prazer ao amável convite para falar às senhoras e aos senhores sobre minha bisavó, a princesa Isabel, de memória tão marcante, que até o fim da vida soube representar aquilo que ela era, uma princesa brasileira, carinhosamente lembrada como a “Redentora” dos escravos.

Direi inicialmente algo sobre o contexto histórico, abordando a questão da escravidão, e pouco a pouco irei introduzindo a Princesa Isabel, para apresentar a personalidade dela, sua atuação, comentando o que ela poderia ter sido para o Brasil, se houvesse reinado como Imperatriz – o modelo de grande dama brasileira.

O problema da escravidão existiu desde quase o começo da Humanidade. Na Antiguidade, estima-se que só 10 por cento dos homens eram livres. 90 por cento constituía a enorme massa de escravos que não tinham direito algum. Os senhores podiam fazer deles o que quisessem: vender, matar, mutilar; usar como cobaia; fazer os piores horrores que se possam imaginar. As uniões, os casamentos dos escravos podiam ser desfeitos ao bel prazer do senhor. Eram tratados como animais.

A Igreja Católica, com a conversão do Império Romano do Ocidente, se empenhou em eliminar pouco a pouco a escravidão. Ela não o fez de uma só vez, pois causaria tais sobressaltos, que seria um perigo para a sociedade e para os Estados. Eu cito aqui um texto de Leão XIII, uma encíclica de 5 de maio de 1888: “Não quis a Igreja apressar-se em obter a emancipação e a libertação dos escravos, posto que isso não podia realizar-se sem alvoroço e sem prejuízo para eles próprios e para as nações, mas preocupou-se principalmente por que fossem as almas dos servos instruídas, conforme as suas capacidades, na religião cristã e que estes adotassem costumes em concordância com o batismo recebido”.

Quer dizer, a Igreja primeiro tratou das almas. Primeiro tratou das mentalidades. Depois, pouco a pouco, foi erodindo a instituição da escravidão. Leão XIII continua: “Pacificadas depois as coisas, e tranqüilos os tempos para a Igreja, os ensinamentos apostólicos sobre a união fraternal dos espíritos entre os cristãos foram expostos com admirável sabedoria pelos Santos Padres e aplicados com igual caridade em defesa dos escravos, esforçando-se em refutar que o direito dos senhores sobre o trabalho dos escravos fosse de absoluta honestidade; e que, sobretudo, fosse de modo algum lícito ao seu poder imperioso e à sua cruel sevícia atentar contra suas vidas”.

A partir de Carlos Magno, que reinou de 760 a 815, no Ocidente a escravidão praticamente desapareceu. No século 9º, segundo o autor americano Rodney Stark em seu livro “A Vitória da Razão”, a escravidão deixou de existir na Europa. Vou citá-lo: “A escravidão acabou na Europa medieval somente porque a Igreja estendeu seus sacramentos a todos os escravos e depois trabalhou para impor a proibição da escravidão de cristãos e de judeus. No contexto da Europa medieval, essa proibição foi de modo efetivo, uma lei de abolição universal”. Continuou a haver escravidão no mundo islâmico, onde, conforme explica o autor, “há uma única e insuperável barreira para a condenação da escravidão: Maomé comprou, vendeu, capturou e possuiu escravos”.

Hoje em dia, no Islã, ainda há escravos. Isso não é contado na mídia em geral, mas há escravidão, e uma boa parte do problema da Somália e daqueles países do leste da África provém do fato de que os maometanos procuram escravizar os cristãos e torná-los seus animais de serviço.

Na Antiguidade, explica esse autor, o conceito de liberdade não existia. Só havia o conceito de sujeição. O conceito de liberdade foi introduzido no Ocidente pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Paulatinamente a escravidão foi sendo substituída por um regime muito mais suave, que hoje em dia é demonizado, mas que de fato era completamente diferente da escravidão – a servidão da gleba. O servo da gleba era alguém que recebia de um senhor um pedaço de terra e era obrigado a cultivá-la. Cultivá-la para seu proveito. Podia se casar. Podia legar essa gleba. Podia juntar um pecúlio. Podia, se quisesse, deixá-la, embora a perdesse se a deixasse. Tinha unicamente que dar um dia da semana de trabalho ao senhor. Um dia da semana de trabalho por semana corresponde a um sexto do que ele trabalhava.

Eu pergunto às senhoras e aos senhores: hoje em dia, com mais de 38 por cento do PIB do Brasil absorvido pelo Estado, quem tem uma sorte mais cruel: o servo da gleba da Idade Média, ou nós, pobres cidadãos livres de uma república democrática? Não há comparação possível!

Os senhores tinham obrigações para com seus servos. Tinham que administrar a justiça e ajudá-los em casos de penúria ou calamidade. O castelo era, por assim dizer, o celeiro de toda a comunidade, onde se guardavam os grãos para as épocas de más colheitas.

O senhor tinha obrigação de proteger seus servos em caso de ataques de inimigos. E os servos só podiam ser chamados às armas se o seu torrão fosse atacado. Eles não podiam ser recrutados, de maneira compulsória, para acompanhar seu senhor numa guerra contra outro senhor ou numa guerra externa. Não havia o que só surgiu nos séculos 19 e 20 – o serviço militar obrigatório. Os servos eram livres.

Em Portugal não houve servidão da gleba. Passou-se da escravidão diretamente para o regime do senhorio, com camponeses livres. Na Espanha também não havia. Só na Catalunha houve feudalismo, e portanto servos da gleba. No resto do país, não os houve. Mesmo a servidão da gleba na Catalunha foi abolida em 1486, por Fernando o Católico.

No século 15, na França, a servidão da gleba já havia desaparecido completamente. Na Alemanha, estava sendo abolida nas províncias mais do sul, continuando ao leste. No leste europeu – eu incluo a Áustria, a Hungria, a Checoslováquia – um pouco, mas muito mitigada sempre pelo trabalho da Igreja. Na Polônia, e principalmente na Rússia, a servidão da gleba se prolongou por mais tempo.

Com a Renascença voltou a escravidão. Por que voltou?

O homem medieval era profundamente religioso. Ele tinha a noção de que sua finalidade principal era servir a Deus, amando-o sobre todas as coisas, e ter amor ao próximo por amor de Deus. Em conseqüência, ficou muito facilitado o trabalho da Igreja pela abolição da escravidão e da servidão. Entretanto, na Renascença voltou a aparecer o ideal de felicidade pagã do gozo da vida.

Como diz muito bem o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro Revolução e Contra-Revolução, na Renascença voltou o ideal de vida de satisfazer o orgulho e a sensualidade, como os antigos romanos, os antigos gregos, os antigos egípcios. E com isso o egoísmo, o antropocentrismo substituiu o teocentrismo medieval. E o homem, por via de conseqüência, voltou a ser o lobo do próprio homem. O gozo da vida era para ser alcançado a qualquer preço, a qualquer custo, passando por cima dos direitos, das conveniências. A Renascença foi uma volta colossal do paganismo antigo, com todas as suas abominações.

É verdade que, pela ação da Igreja, o Cristianismo ainda tinha raízes muito profundas, que continuaram até nossos dias, embora se erodindo pouco a pouco, como é magistralmente bem descrito no referido livro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Mas voltaram várias aberrações.

A América foi a região onde espanhóis e portugueses encontraram pretexto para restaurar a escravidão. Muitos afirmavam que os índios e os negros não tinham alma, e que portanto eram verdadeiros animais. Entretanto a Igreja, desde o começo, se levantou contra isso.

Carlos V consultou o Papa Paulo III sobre se era lícito escravizar os índios. E a resposta de Paulo III é lapidar. Na bula de 9 de junho de 1537 ele afirma: “A mesma verdade, que nem se pode enganar nem ser enganada, quando mandava os pregadores de sua Fé a exercitar esse ofício, sabemos o que disse: Ide e ensinai a todas as gentes.A todas disse, indiferentemente, porque todas são capazes de receber a doutrina de nossa Fé. (…) Sob pretexto de que são incapazes de recebê-la, os põem em dura servidão, e os afligem e oprimem tanto, que ainda a servidão em que têm seus animais apenas é tão grande com que afligem a esta gente. Nós outros, pois, que ainda que indignos temos as vezes de Deus na terra e procuramos com todas as forças achar suas ovelhas, que ainda estão perdidas fora de seu rebanho, para levá-las a ele, pois este é nosso ofício; conhecendo que aqueles mesmos índios, como verdadeiros homens, não somente são capazes da fé de Cristo, senão que acodem a ela, correndo com grandíssima prontidão, segundo nos consta; e querendo promover nestas cousas de remédio conveniente, com autoridade Apostólica, pelo teor das presentes, determinamos, e declaramos, que os ditos índios, e todas as mais gentes que daqui em diante vierem à notícia dos cristãos, ainda que estejam fora da Fé de Cristo, não sejam privados, nem devem sê-los, de sua liberdade, nem do domínio de seus bens, e que não devem ser reduzidos à servidão. Dada em Roma, ano de 1537, aos 9 de julho, ano terceiro de nosso pontificado”.

Fechou a questão. Roma locuta, causa finita. Uma linguagem que dá saudades!

A Igreja, apesar de tudo, tolerou a escravidão dos negros. Por sua doutrina, ela fazia com que eles fossem mais bem tratados aqui na América do Sul e na América Central. Muito mais bem tratados que entre os pagãos. Ela batizou os negros aqui trazidos. Casava-os segundo o rito católico. Empenhava-se para que os casais não fossem separados, e eles escapavam – foi essa a razão que levou a Igreja a tolerá-la – a uma sorte muito mais cruel, se permanecessem como escravos na África.

A partir de fins do século 17 e durante o século 18, os territórios portugueses da África foram governados pelos vice-reis do Brasil. Portanto, tudo que se tratava em África passava primeiro pelo Brasil. D. João VI mandou o padre Vicente Pereira Pires, um baiano, como enviado junto ao rei do Daomé, para fazer uma aliança, um tratado. O que ele relata do que viu é espantoso. Naturalmente ele conta que os escravos que os portugueses traziam para cá eram comprados de outros reis negros, quando não de mercadores árabes. Ele relata o tratamento que os escravos tinham na África. São coisas atrozes!

Quando algum escravo desagradava o rei negro, ele era enterrado até o pescoço e mantido até a morte sob o sol escaldante, untado com uma substância que atraía os insetos. E se queria construir uma nova choça, para fazer uma certa argamassa ele mandava sangrar algumas centenas de escravos, como se sangra um animal. Recolhia aquele sangue, misturava com barro e fazia os tijolos para construir a choça. O fato é que, quando aqueles escravos – que eram prisioneiros de guerra – sabiam que iam ser vendidos para mercadores portugueses, davam vivas, pulavam de alegria, porque sabiam que iam ter uma sorte muito mais humana do outro lado do Atlântico. Notícias disso atravessaram o oceano, e os negros da África sabiam dessa realidade.

Os negros que vinham para o Brasil encontravam senhores católicos. Não só isso, mas encontravam uma virtude tipicamente brasileira, que é a grande bondade que impera em nosso País, herdada de Portugal, e que aqui, por assim dizer, se alargou de uma maneira extraordinária.

Há mil exemplos de como os escravos eram bem tratados por seus senhores. Fala-se muito mais do tronco, do açoite, mas quase não se fala da dedicação que os escravos tinham pelos seus senhores. Isso só se dá quando há bons tratos. A mãe-preta, a ama-de-leite que amamentava o filho do patrão, e que depois se tornava ama-seca e como que uma segunda mãe para o filho do patrão, permanecendo na família até a morte.

O pior escravagista – segundo o mito, barão de Cotegipe, chefe da bancada escravagista – quando ia ao Parlamento, ia de carruagem e levava consigo, além do cocheiro, um menino negro para levar recados, levar uma coisa aqui, acolá etc. Se começava a chover, o barão dizia: Zezinho, Zezinho, vem cá, entra aqui na carruagem, para não pegar um resfriado. Praticamente tratava-o como filho. E esse era o chefe dos escravagistas no Parlamento!

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira contava que sua avó, Da. Gabriela Ribeiro dos Santos, uma grande senhora que marcou muito a sociedade paulista no fim do século 19 e início do século 20, costumava conversar longamente com uma velha ex-escrava. Entretinham-se, recordando os velhos tempos. Quer dizer, era tratada como um membro da família. E não eram exceções. Era a regra geral em nosso grande, querido e bondoso Brasil.

Os escravos às vezes eram castigados. Mas conta-se que em muitos casos o fazendeiro dizia para a filha: Olha, vou ter que chicotear tal escravo; quando o feitor levantar o chicote, você vem e me pede misericórdia. É bem típico do jeitinho brasileiro!

Eles tinham também a possibilidade de comprar a própria liberdade. A alforria era uma instituição. Poucos sabem que a Caixa Econômica foi fundada para que os negros pudessem depositar suas economias, fazer um pecúlio, e finalmente comprar a liberdade.

Os escravos que obtinham a liberdade, freqüentemente ficavam com seus senhores. Recebiam um pedaço de terra. Alguns voltaram para a África, e lá se tornaram elite, pois tinham recebido a influência da sabedoria cristã. No meio da barbárie dos seus congêneres, faziam fortuna. Tornaram-se grandes empresários, políticos etc. E a superioridade dos negros brasileiros é reconhecida na África – em Daomé, no Benin, na Costa do Marfim. Isso mostra como foi vantajoso para os negros virem para o Brasil, apesar do regime de escravidão que, embora reprovável, foi tolerado como um mal menor.

A Família Imperial se empenhou desde o começo pela abolição. D. Pedro I quis incluir uma cláusula com a abolição da escravidão na primeira – e única! – constituição do Império. Foi José Bonifácio que o demoveu, dizendo que uma medida de tão grandes conseqüências causaria convulsões, problemas sociais e políticos, e no momento era inviável para o Brasil, que se arriscava a perder sua integridade, esfacelar-se em várias repúblicas. Mas os imperadores sempre tiveram essa meta diante dos olhos.

D. Pedro II premiava os senhores que libertavam seus escravos. Fala-se muito do caderninho preto e do lápis fatídico de D. Pedro II. É o caderno onde ele anotava suas observações de viagem. Se encontrasse algum funcionário, um governador, uma pessoa qualquer indigna, ele anotava, e essa pessoa estava com a carreira cortada. O caderninho dele era muito temido, e o lápis dele era chamado lápis fatídico. Mas, é preciso dizer, esse lápis não era só fatídico, era também premiante. O senhor que libertava seus escravos recebia uma comenda ou alguma honraria.

Joaquim Nabuco, que era um dos próceres da abolição, narra sua estadia em Roma, pouco depois de passar por Londres, para tratar da abolição. Com Leão XIII ele se empenhou para que o Papa escrevesse uma encíclica contra a escravidão. No relato de viagem, que consta no livro “Minha Formação”, no capítulo “O Papa e a Escravidão”, ele diz: “Descrevi ao Papa o movimento abolicionista como tendo-se tornado, proeminentemente, um movimento da própria classe dos proprietários. E dei, como devia e é justo, aos operários desinteressados de última hora a maior parte, a solução do problema, que sem a sua generosidade seria insolúvel. Expus que não havia na história do mundo exemplo de humanidade de uma grande classe, igual à desistência feita pelos senhores brasileiros de seus títulos de propriedade escrava. Quanto à Família Imperial, repetia ao Sumo Pontífice que o que há de feito em nossas leis, em favor dos escravos, é devido à iniciativa e imposição do Imperador, ainda que seja pouco”.

Quer dizer, o Imperador estava limitado pela Constituição. Mas o que ele podia, ele fazia.

O Conde d’Eu, logo que terminou a Guerra do Paraguai – sendo o comandante-em-chefe das forças aliadas -, e tratando de reorganizar e levantar o Paraguai de suas ruínas, como primeira medida aboliu a escravidão. Isso em 1870, 18 anos antes da Lei Áurea. É evidente que ele fez isso de acordo com o Imperador.

Agora, vamos à Princesa Isabel. D. Pedro II era casado com Da. Teresa Cristina Maria de Bourbon, das Duas Sicílias. Teve quatro filhos, dois varões e duas mulheres. Os filhos homens morreram cedo, e portanto às filhas transmitiu-se o direito de sucedê-lo no trono diretamente. Primeiro D. Isabel, que nasceu em 20 de julho de 1848, batizada a 15 de novembro do mesmo ano com o nome de Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Rafaela Gonzaga, na capela imperial, pelo Bispo Conde de Irajá. Padrinhos por procuração: D. Fernando, rei de Portugal, e a rainha Maria Isabela, viúva do rei Francisco I da Áustria, sogra de D. Pedro II. Conta o livro de Hermes Vieira: “Antes do batismo, na escadaria da capela imperial, o Imperador, aproximando-se da filha e tomando-a nos braços, avançou um passo e a apresentou ao povo, que lá fora, curioso, comprimido, correspondeu ao gesto do monarca ovacionando Sua Alteza e aos soberanos do Brasil. Ouviram-se então os sons heróicos do Hino Nacional, confundidos com o vozerio consagratício da multidão, entoadas pelas bandas de música postadas no passadiço e no coreto armado junto ao alpendre da torre da capela imperial”.

Da. Teresa Cristina, nossa terceira imperatriz, é da Casa de Nápoles, que é sumamente católica. É uma Casa que se esmerou sempre na aliança com o Papado, na defesa da Igreja. Por ocasião do chamado Risorgimento Italiano, perdeu seu trono porque não quis usurpar os Estados de outros soberanos, principalmente os Estados Pontifícios. Perdeu seu trono em 1860, dez anos antes da queda de Roma frente às tropas garibaldinas. Garibaldi e os Savóia concentraram todas as suas forças contra Nápoles, e só depois foram atacar os Estados Pontifícios.Da. Teresa Cristina recebeu, e transmitiu, essa profunda formação católica à sua filha.

A Princesa Isabel realmente foi católica no fundo da alma, até o fim da vida. Com 14 anos ela prestou o juramento de estilo perante as Duas Câmaras. Aos 48 anos, foi reconhecida solenemente como herdeira presuntiva do trono. Em 1864 se casou com o conde d’Eu, como resultado de um fato pitoresco e até comovedor. D. Pedro II procurava noivos para suas duas filhas, a Princesa Isabel e Da. Leopoldina. E pediu à sua irmã, que era casada com o príncipe francês de Joinville – daí o nome de nossa cidade em Santa Catarina – que procurasse para suas sobrinhas dois noivos apropriados, entre as Casas Européias. E a Princesa de Joinville encontrou dois primos irmãos: o Duque de Saxe e o Conde d’Eu, que era um príncipe da Casa de Orleans. Portanto, muito proximamente aparentado com o marido dela. O Duque de Saxe estava destinado à Princesa Isabel e o Conde d’Eu a Da. Leopoldina. Mas, chegando aqui, os noivos viram que não combinavam, e resolveram trocar. A Princesa Isabel escreve, com muito charme: Deus e nossos corações decidiram de outra maneira. O Conde d’Eu se casou então com a Princesa Isabel, e Da. Leopoldina com o Duque de Saxe. O Conde d’Eu, segundo Hermes Vieira, se sentia bem ao lado dela. Era simples, boa, afetuosa e pura. Possuía uma voz bem educada e tocava piano com sentimento e graça. Tinha uma sadia ingenuidade, uma singeleza de idéias, quer dizer, uma clareza de idéias admirável, além de muita sensibilidade. Isso, sem falar dos seus talentos, da sua instrução pouco comum para a época. Dominava corretamente o francês, o alemão e o inglês.

Logo que a Princesa Isabel se estabeleceu com casa própria – no hoje palácio Guanabara, que era o palácio Isabel da época – ela procurou, no seu papel de princesa herdeira mas não regente, fomentar uma vida cultural e social no Rio de Janeiro. Então havia toda semana um serão e um jantar, mais ou menos elegante, mais ou menos cultural etc. Isso para fomentar a cultura geral na Corte. E eram bastante concorridos esses serões. O próprio Imperador ia uma vez por semana na casa da filha para jantar com ela. Em 1871, por motivo da viagem do casal imperial, Isabel prestou juramento como Regente do Império perante as Duas Câmaras. “Juro manter a Religião Católica Apostólica Romana, a integridade e indivisibilidade do Império, observar e fazer observar a Constituição política da Nação Brasileira e mais leis do Império, e prover o bem do Brasil quanto a mim couber. Juro fidelidade ao Imperador e entregar-lhe o governo logo que cessar o seu impedimento”.

Nesse mesmo ano, a 27 de setembro, sendo presidente do Conselho o visconde do Rio Branco, pai do barão do Rio Branco, foi votada a Lei do Ventre Livre, na sessão que ficou chamada Sessão das Flores. Quando aprovada a Lei do Ventre Livre, uma chuva de rosas desatou-se no plenário da Assembléia. O ministro dos Estados Unidos no Rio de Janeiro colheu algumas dessas flores, e disse: “Vou mandar estas flores para meu país, para mostrar como aqui se fez uma lei que lá custou tanto sangue”. A Guerra de Secessão nos Estados Unidos custara seiscentos mil mortos. Não é preciso dizer mais nada.

Em 1876, na segunda regência, começou uma campanha de detração pelos círculos republicanos positivistas, maçônicos também, contra a Princesa Isabel, por causa de seu catolicismo. Eles viam que ela – por sua firmeza de princípios, por sua formação profundamente católica, mas também pelo pulso que demonstrou nas regências – seria uma imperatriz que faria da Terra de Santa Cruz realmente uma exceção no mundo. Ela exerceria uma profunda influência por sua autenticidade, sua cultura, sua religiosidade, e por tudo aquilo que pode elevar o espírito de um povo. Isso eles não queriam, então começaram a campanha de detração: era feia; não era patriota; não gostava do Brasil; preferia ter médicos franceses a brasileiros. E quantas outras calúnias. O Conde d’Eu era um surdão, arrogante, mantinha cortiço. Até a surdez – da qual ele, coitado, não tinha culpa – era assacada em meio às calúnias. De tal maneira que, pouco a pouco, foram demonizando esse casal, para evitar que mais tarde subissem ao trono. Dizia-se, em certos círculos, que era preciso fazer a república logo, porque se a Princesa Isabel subisse, acabaria com todo esse movimento ateu, positivista e republicano. Ela teria pulso, teria prestígio para fazer isso. Tornou-se corrente a frase: “Precisamos fazer a república enquanto o velho está vivo, senão a filha dará cabo de nós”.

Em 1888 foi a Lei Áurea. Caindo o gabinete Cotegipe, a Princesa Isabel chamou o Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira, abolicionista, à presidência do Conselho. Ele fez votar a Lei Áurea e a apresentou para a assinatura da Princesa Isabel. O Conde d’Eu, nessa ocasião, teve um momento de hesitação : “Não o assine, Isabel. É o fim da Monarquia”. Ao que ela respondeu: “Assiná-lo-ei, Gaston. Se agora não o fizer, talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade tão propícia. O negro precisa de liberdade, assim como eu necessito satisfazer ao nosso Papa e nivelar o Brasil, moral e socialmente, aos demais países civilizados”.

Depois da assinatura, grande festa no Rio de Janeiro, o povo aclamando etc. Estando a Princesa Isabel junto ao barão de Cotegipe na janela do palácio – o barão a estimava, só estavam em desacordo na questão da escravidão – ela lhe indagou: “Então, senhor Barão, V. Excia. acha que foi acertada a adoção da lei que acabo de assinar?”. Ao que o Barão, com muito carinho, respondeu: “Redimistes, sim, Alteza, uma raça, mas perdestes vosso trono…”

D. Pedro II nesse momento estava em Milão, muito doente e com a perspectiva de morte. Mas a 22 de maio ele sentiu uma certa melhora e a Imperatriz teve a coragem de lhe dar a notícia da Abolição. Diz Heitor Lira: “Enchendo-se de coragem, debruçada sobre a cabeceira do marido, deu-lhe com brandura a grande nova. O Imperador abriu lentamente os olhos amaciados e depois perguntou como quem ressuscitava: ‘Não há mais escravos no Brasil?’. ‘Não – respondeu a Imperatriz – a lei foi votada no dia 13. A escravidão está abolida’. ‘Demos graças a Deus. Telegrafe imediatamente a Isabel enviando-lhe minha bênção e todos os agradecimentos para o País’. Houve um momento de silêncio. A emoção dos presentes era grande. Virando-se depois, lentamente, o Imperador acrescentou com voz quase sumida – ‘Grande povo, grande povo’ – e desatou a chorar de emoção. O telegrama que foi mandado à Princesa Isabel tinha o seguinte teor: ‘Princesa Imperial. Grande satisfação para meu coração e graças a Deus pela abolição da escravidão. Felicitação para vós e todos os brasileiros. Pedro e Tereza'”.

O Papa Leão XIII resolveu premiar a Princesa Isabel com a maior distinção que os Soberanos Pontífices davam a chefes de Estado e a pessoas de grande relevo, nas ocasiões em que eles adquiriam méritos especiais. Enviando-lhe a Rosa de Ouro, que foi entregue a 28 de setembro de 1888, no 17º aniversário da promulgação da Lei do Ventre Livre. A data foi escolhida pelo próprio Núncio Apostólico, para a cerimônia que se realizou com toda magnificência na capela imperial. Entretanto, apesar de tudo, continuou a campanha de detração contra a monarquia, agora contra o Imperador: o velho está gagá; ele dorme o tempo todo; o Conde d’Eu e a Princesa Isabel vão se tornar tiranos aqui; e toda uma leva de calúnias, espalhadas por todo o País.

A 15 de novembro, os militares que estavam no Rio de Janeiro – eram uma minoria, representavam um terço do Exército Brasileiro – proclamaram a República. O golpe foi totalmente alheio à vontade do povo, tanto é que eles embarcaram a Família Imperial à noite, rumo ao exílio, para que não houvesse reação popular. Na partida, a Princesa Isabel passando junto à mesa onde havia assinado a Lei Áurea, bateu em cima e disse: “Mil tronos houvera, mil tronos eu sacrificaria para libertar a raça negra”.

D. Pedro II recusou 5 mil contos de réis – cerca de 4 toneladas e meia de ouro, uma fortuna – que lhe ofereceram os revoltosos, porque, dizia, o governo não tinha direito de dispor assim dos bens nacionais. Da. Tereza Cristina, mal chegando a Portugal, morreu de desgosto no Grande Hotel do Porto. Eu estive lá alguns anos atrás, quando o hotel inaugurou uma placa. E D. Pedro II faleceu a 4 de dezembro de 1891, no Hotel Bedfor, em Paris, onde uma placa recorda o passamento do ilustre hóspede. Tal era o prestígio que cercava sua pessoa, que a República francesa lhe concedeu funerais completos de Chefe de Estado.

Conde d’Eu e a Princesa Isabel compraram um palacete em Boulogne-sur-Seine, que é um bairro de Paris periférico mas nobre. Lá ela abria seus salões para os brasileiros que iam visitá-los. E não só isso. Conseguiu se impor na sociedade parisiense a tal ponto que nas memórias de várias pessoas, era quase uma rainha daquela sociedade. Era tida como a principal personalidade lá. Somente ela e o presidente da República podiam entrar de carruagem no pátio interno da Ópera de Paris.

Uma indu, que se tornaria mais tarde Maarani Karkutula, escreve em suas memórias, que ela via a Princesa Isabel como uma verdadeira rainha, uma fada. Não só isso – uma rainha, uma fada – mas, mais uma vez, com toda a bondade brasileira e católica, que era própria da Princesa Isabel. A Maarani conta que, quando menina, teve uma crise aguda de apendicite. Operada com os recursos incipientes da época, passou uma longa convalescença no hospital. A sociedade parisiense toda, curiosa, ia visitá-la. Ela dizia que se sentia um bichinho exótico, que as pessoas iam ver como num zoológico, e a única que foi visitá-la com bondade e para lhe fazer bem, foi a Princesa Isabel. Ela conta que a Princesa Isabel se aproximou do seu leito, agradou-a muito, acariciou, consolou etc. E no fim, disse: “Minha filha, eu não sei que religião você tem. Mas sei que há um Deus que ama todas as crianças do mundo. Aqui está uma imagem da mãe dele. Guarde-a consigo, e quando você estiver numa grande aflição, peça a ela para interceder junto ao Deus verdadeiro”. A Maarani não se converteu à Igreja Católica, permaneceu pagã até o fim da vida, mas nos momentos de apuro se ajoelhava diante da imagem de Nossa Senhora, que a Princesa Isabel tinha lhe dado. Porque ela sabia que seria ouvida.

Santos Dumont, nessa época, fazia suas experiências em Paris. Sabendo que ele passava muito tempo no campo onde fazia seus experimentos, mandava-lhe farnéis para que ele não precisasse voltar à cidade para almoçar. Certa vez, escreveu-lhe: “Sr. Santos Dumond, envio-lhe uma medalha de S. Benedito, que protege contra acidentes. Aceite-a e use-a na corrente de seu relógio, na sua carteira ou no seu pescoço. Ofereço-a pensando em sua boa mãe, e pedindo a Deus que o socorra sempre e ajude a trabalhar para a glória de nossa Pátria”. E noutra ocasião: “Suas evoluções aéreas fazem-me recordar nossos grandes pássaros do Brasil. Oxalá possa, o Sr., tirar de seu propulsor o partido que aqueles tiram de suas próprias asas, e triunfar para a glória de nossa querida Pátria”.

Muito tocante também é o fim da carta que ela escreveu para o Diretório Monárquico, para anunciar os casamentos de seus filhos mais velhos. O Diretório era composto pelo Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira, pelo Visconde de Ouro Preto e pelo Conselheiro Lafaiete. A carta é datada de 9 de setembro de 1908: “Minhas forças não são o que eram, mas o meu coração é o mesmo para amar a minha Pátria e todos aqueles que lhe são dedicados. Toda a minha amizade e confiança”. Quer dizer, era o jeito brasileiro, a bondade brasileira perfeitamente encarnada naquela senhora.

Uma outra amostra de seu profundo interesse pelo Brasil está numa carta ao Cons. João Alfredo. O Banco do Brasil, não me recordo agora no período de qual presidente, estava num descalabro propriamente republicano: desordem completa; contas não estavam acertadas; funcionalismo completamente rebelde. E o presidente da República concluiu então que o único que teria inteligência, força, garra e pulso para pôr ordem ali seria o Cons. João Alfredo, e o convidou a assumir a presidência do Banco do Brasil. João Alfredo respondeu: “Eu sou monarquista, e portanto só posso aceitar esse cargo se a minha Imperatriz autorizar”. Escreveu à Princesa Isabel, explicando o caso, e ela respondeu: “Para o bem de nossa Pátria, o Sr. deve aceitar”. João Alfredo assumiu a presidência do Banco do Brasil, pôs em ordem o funcionalismo, pôs em ordem a contabilidade. Pagou todos os atrasados, todas as dívidas, deixou tudo em perfeito estado. Depois pediu demissão e morreu pobre, porque não levou um tostão daquela gestão. Outros tempos! Hoje em dia… (risos…)

Agora uma carta da Princesa Isabel à irmã de um monarquista eleito deputado, Ricardo Gumbelton, de uma boa família, muito conhecida. Ele não queria aceitar o cargo de deputado, e a princesa Isabel diz: “Não concordo, absolutamente! Diga ao seu irmão que ele deve aceitar a cadeira de deputado e propugnar pela grandeza moral, econômica e social de nossa Pátria. Não aceitando é que ele estará procedendo de maneira contrária aos interesses da coletividade. Não nos deve importar o regime político sob que esteja o Brasil, mas sim conseguir-se colaboradores de boa vontade capazes de elevar o nosso País. De homens como ele é que o Brasil precisa para ascender mais, para fortalecer-se mais. Faça-lhe sentir que reprovo sua recusa”. Quer dizer, o bem do Brasil estava acima dos interesses próprios.

Ela ainda viveu até 1921. Cada vez mais fraca, mas sempre com aquela grande classe, com aquele grande porte. Nas fotografias dela no exílio, ela tem um porte imperial que não tinha aqui no Brasil. No infortúnio, a noção da missão dela foi se cristalizando cada vez mais, e ela era realmente, nessas fotografias, uma imperatriz. No batizado de meu pai – pena que eu não tenha aqui a fotografia, que gostaria de apresentar para as senhoras e os senhores – ela é uma senhora de uma nobreza e de uma categoria impressionantes. E foi assim até o fim da vida.

Morreu sem poder voltar ao Brasil. Ela representou na França o que havia de melhor no Brasil. Muito mais do que nosso corpo diplomático, muito mais do que nossos homens de negócio, ela foi um exemplo do que o Brasil era ou deveria ser. E a França entendeu isso. Assis Chateaubriand, em Juiz de Fora, a 28 de julho de 1934, escreveu: “Apagada a sua estrela política, depois de vencida a tormenta da abolição, ela não tinha expressão dura, uma palavra amarga para julgar um fato ou um homem do Brasil. No mais secreto de seu coração, só lhe encontrávamos a indulgência e a bondade. Este espírito de conduta, esse desprendimento das paixões em que se viu envolvida, era a maior prova de fidelidade, no exílio, à pátria distante. Mais de 30 anos de separação forçada não macularam a alvura dessa tradição de tolerância, de anistia aos agravos do passado, que ela herdara do trono paterno”.

Faleceu no castelo d’Eu. Apagou-se suavemente, docemente. Aí sim, a República reconheceu o que o Brasil tinha perdido. Epitácio Pessoa determinou três dias de luto nacional, e que fossem celebradas exéquias de Chefe de Estado. Também a Câmara Federal votou que seu corpo fosse trazido para o Brasil num vaso de guerra, o que só se realizou em 1953. Em 13 de maio de 1971, seu corpo e o do Conde d’Eu foram levados solenemente à catedral de Petrópolis, e lá repousam à espera da ressurreição dos mortos e do juízo de Deus.

Essa era a grande mulher que nosso Brasil tinha. Ela não foi uma grande intelectual. Foi uma princesa até o fundo da alma. Foi uma patriota até o fundo da alma. Uma senhora que sabia que tinha nascido para o bem de um país, e encarnou essa missão na Pátria e no exílio até o fim da vida. Foi um exemplo de princesa, um exemplo de imperatriz, um exemplo de católica. Ela foi o tipo perfeito do que deveria ser a mulher brasileira. (aplausos)

Se houver alguma pergunta, estou à disposição.

Aparte: V. Alteza antecipou alguma coisa na palestra, mas faço apenas um comentário, por curiosidade. É a respeito dessa medalha que foi encaminhada ao Santos Dumont, porque se propagava que Santos Dumont era um homem ateu. Mas, na verdade, essa medalha – na tradução constou como medalha de S. Benedito, mas é uma medalha de S. Bento – ele a usou no pulso direito até o fim da vida, e ele mostrava essa medalha. Talvez, quem sabe, Deus tenha tocado a alma dele, de algum modo.

D. Luiz: Quem sabe. Deus queira! Isso mostra quanto a Princesa Isabel representava para os brasileiros, e neste caso um brasileiro de escol!

Aparte: Ele mandou fazer uma cópia em ouro dessa medalha, e a deu de presente à primeira aviadora brasileira, Anésia Pinheiro Machado, que tinha sido brevetada com apenas 18 anos de idade. Ela usou também a medalha até o fim da vida.

Aparte: Não foi apenas coincidência a lei do banimento ser extinta somente após a morte dela. Porque, se a Princesa voltasse para o Brasil em vida, certamente a República balançaria.

D. Luiz: É preciso dizer o seguinte. Em 1920 houve umas comemorações no Brasil em que foram convidados os membros da Família Imperial, e ela poderia ter vindo, mas a saúde dela estava tão alquebrada que ela não pôde empreender a viagem. Vieram o Conde d’Eu e alguns membros da Família Imperial.Ela praticamente já não teria mais atuação aqui no Brasil. Mas o problema para a República era meu avô, D. Luiz de Orleans e Bragança, o chamado Príncipe Perfeito. Ele era muito empreendedor, com muita garra, muito pulso, muito inteligente, muito culto, muito viajado, e a República o temia. Foi só depois da morte dele, em 1921 também – antes do falecimento da Princesa Isabel, em conseqüência de uma doença adquirida no fronte da I Guerra Mundial – que a República se sentiu segura para abolir a lei do banimento.

Por ocasião das comemorações da Independência, em 1922, o Conde d’Eu veio com minha avó paterna, meu pai e seus irmãos, e também com o filho D. Pedro de Alcântara, que tinha renunciado ao trono. Ele veio aqui por um sentimento de dever para com o Brasil também, porque com a renúncia de D. Pedro de Alcântara era perigoso que, apesar disso, se formassem partidos, principalmente tendo meu avô morrido. Então o Conde d’Eu fez questão de vir aqui para apresentar meu pai como herdeiro legítimo da Princesa Isabel. Ele veio apesar de seus médicos desaconselharem formalmente a viagem. De fato, ele morreu a bordo do navio, antes de chegar ao Rio de Janeiro. Sua atitude foi de um soldado indo ao campo de batalha, sabendo que poderia sacrificar sua vida para o bem da Pátria.

Read Full Post »

Olha só que coisa interessante: os muçulmanos querem a Espanha de volta! Ao que parece, não foram suficientes os oito séculos da Guerra da Reconquista; ainda há muçulmanos que, na sua sanha expansionista, objetivando empurrar a sua falsa religião goela abaixo de quem quer que apareça na sua frente, ousam reclamar uma terra que nunca lhes pertenceu e da qual eles já foram expulsos uma vez.

São os jovens terroristas do Hamas que fazem o “pedido”. Choramingando pela “expulsão” que eles sofreram (graças ao povo cristão da Península Ibérica não ter aceitado a imposição muçulmana) e dizendo que o “paraíso perdido” (ao que parece, a Andaluzia; mas não sei se o Hamas se refere apenas a esta região, ou a toda a Espanha, já que Al-Andalus era o nome que os sarracenos davam a toda a Península Ibérica) precisa voltar às mãos muçulmanas para que nela “reine a felicidade”, sinceramente, não dá para garantir que tal texto seja apenas uma obra literária e não uma ameaça verdadeira.

«Soy la ciudad de Sevilla, la novia de la tierra de Al-Andalus. Antes fui la capital del Reino de Sevilla, comunicada con el Atlántico a través del río Guadalquivir. Llevo sobre mi cuello la bufanda del río más hermoso, que gana en belleza al Éufrates, al Tigris y al Nilo, y donde navegan los barcos de paseo y de pesca unas 24 millas, bajo los árboles y el canto de los pájaros

[…]

Os ruego, queridos míos, que me llaméis para volver con las demás ciudades del paraíso perdido (Al-Andalus) a las manos de los musulmanes, para que reine la felicidad en mi tierra y me visitéis, ya que soy la novia de la tierra Al-Andalus».

Conhecendo os filhos de Maomé, é justificável ficar com um pé atrás, e se precaver contra os “mártires” [= os “homens-bombas”] que porventura desejem fazer – de novo – com que a felicidade reine em terras espanholas sob os escombros da civilização cristã…

Que Santiago Matamoros proteja a Espanha!

Read Full Post »

Older Posts »