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[Carta escrita pelo revmo. pe. Héctor Ruiz, pároco de São Lourenço da Mata, que ele, após ter obtido autorização do senhor Arcebispo, tornou pública e permitiu-me publicá-la, pelo que o agradeço imensamente.]

Olinda – PE; 17 de março de 2009

SR. ARCEBISPO
DOM RINO FISICHELLA
Presidente da Pontifícia Academia para a Vida
Cidade do Vaticano.

“Mi scusi Monsignore”!

Misericórdia! Tem razão!: Misericórdia com todos os abortistas radicais, com os médicos… , mas de maneira nenhuma com o seu irmão no arcebispado, Dom José Cardoso! Como ele se atreve a expor e a defender valentemente e com clareza absoluta a doutrina da Igreja! Misericórdia com ele, nenhuma! Bravo, Monsignore!

Quero, simplesmente dizer-lhe que o seu artigo no L’Osservatore Romano foi infeliz, confuso, “confundente” e imprudente:

Infeliz: Sai à praça pública a gritar ao mundo que o seu irmão foi precipitado. (Não era conveniente chamá-lo antes no secreto, “modo evangélico”). Isto acontece numa praça em guerra entre a Igreja e o mundo abortista. Claro, os opositores à doutrina da Igreja aplaudem e deixam arrasados aos que acreditamos na unidade da Igreja. Tanto aplaudem que proclamam: “O Vaticano desautoriza Dom José!” Bravo, Monsignore!

Confuso: Dá a entender que o senhor não conhece o caso em profundidade. Como é que proclama que seu irmão se precipitou e a Igreja não fez o que ela pode em prol da menina? Não é isso que escreveu o pároco de Alagoinha (de onde era a criança, e não de Recife, para sua informação)! Lamento que o seu pronunciamento deixa ver que a sua fonte de informação foi a imprensa anticristã! Quem falou que já no começo entrou o nosso arcebispo com o tema da excomunhão? (Não era melhor consultar o seu irmão, em vez de denunciá-lo publicamente?) É confuso porque estão muitas verdades ditas pela metade. Depois disso não sabemos se o aborto é excomunhão ou não, se a Igreja têm que pronunciar-se ou não… se o artigo é uma posição do Papa ou uma opinião pessoal… Se isso não for excomunhão, então que retirem o cânon 1398 do Código de Direito Canônico! Está confusa a sua colocação e estamos confusos nós. Bravo, Monsignore!

“Confundente”: Agora não sabemos que atitude tomar os padres, os bispos e os leigos.  Bravo, Monsignore!

Imprudente: não só pelo uso de uma má informação, nem sequer porque gritou ao mundo antes de falar com seu irmão, mas porque deu a impressão de que a Igreja Católica não têm uma doutrina certa (e sim graves divisões dentro dela) e não têm nem direito nem fundamento para dar castigos salutares… Os abortistas estão gostando muito. Bravo, Monsignore!

Misericórdia, sim! Temos que ter misericórdia, muita misericórdia!  Mas, atento, “monsignore”, muita misericórdia, sobretudo com o seu irmão no arcebispado, que já há muitos anos está sofrendo o ataque impiedoso da mídia; misericórdia com a Igreja Católica, misericórdia com nós que estamos confusos!

“Mi scusi, Monsignore!”

______________________________________
Pe. Héctor M. Ruiz
Administrador paroquial de São Lourenço Mártir e
Professor de História da Filosofia no Seminário de Olinda.

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[Atendendo ao pedido que recebi por email, publico os comentários do revmo. pe Berardo Graz, do clero de Guarulhos, SP, sobre o artigo de Dom Rino Fisichella que foi publicado no Osservatore Romano domingo passado.]

Acredito que Mons. Fisichella escreveu a declaração, publicada no “L’Osservatore Romano” do dia 15/03/09, a partir das notícias que chegaram até ele sobre o caso da menina estuprada e submetida a aborto de gêmeos. Se Mons. Fisichella tivesse recebido informações mais corretas e detalhadas de como se desenrolou o fato não teria escrito o que escreveu.

Cito e comento algumas passagens da mensagem de Mons. Fisichella:

1) “No caso de Carmen se confrontaram a vida e a morte” .

Não é verdade! Tanto assim que o IMIP (Instituto Materno Infantil de Pernambuco), após intervenção de Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Recife, declarou que a menina não estava correndo risco de morte e também por isso permitiu que fosse transferida. O risco se acentuaria no final da gravidez, mas é por isto que o parto, antecipado por causa dos gêmeos e precedido pelo acompanhamento do pré-natal, seria por cesariana, como acontece na grande maioria das quase 30.000 gravidezes (exatamente 27610 em 2006 pelo DATASUS), em adolescentes abaixo de 14 anos, a cada ano no Brasil.

2) “Carmen deveria ter sido em primeiro lugar defendida…”.

É o que exatamente e eficazmente Dom José fez, porque obrigou a direção do IMIP a revelar a verdade sobre o falso risco de morte da criança, mentira através da qual se quis cativar a opinião pública, na sua grande maioria contrária ao aborto, para que se tornasse favorável a este crime contra a vida. Esta mentira continua dominando a Mídia e através dela a população em geral, para que aos poucos a grande maioria concorde com o aborto na gravidez na adolescência, porque acarretaria risco de morte. Estas são as estratégias do movimento abortista que há cinquenta anos está internacionalmente influenciando todos es estados para que até 2015 o aborto seja legalizado em todas as nações e declarado e praticado como direito humano, com o aval da ONU. Este é o clima que estamos respirando no Brasil nos últimos anos, graças principalmente ao atual governo, conivente e colaborador destas estratégias.

Nada disso a declaração de Mons. Fisichella menciona, acredito por falta de informações, pois a atitude de Dom José Cardoso, desmascarando esta trama de mentiras, não somente tentou defender “Carmen”, mas também as várias “Carmens”, que estão sendo instrumentalizadas para que o aborto seja cada vez mais aceito pela população normalmente contrária. Nestes dias uma nova “Carmen”, moradora de Guaratinga na Bahia, está arriscando de cair na trama dos abortistas que querem a todo custo que aborte <i>nonostante</i> ela seja contrária.

Dom José foi corajoso e ensina a coragem de não nos calarmos, como cristãos e católicos, na frente destas tremendas injustiças e autênticas violações dos direitos humanos. A mãe da “Carmen” deu o seu consentimento ao aborto, claramente coagida pela equipe do IMIP que falsamente apresentou o caso como perigo de morte. O pai da menina nem pôde falar com os médicos, tendo o direito de expressar o seu consentimento ou não ao procedimento, direito que lhe foi negado, o que segundo a lei brasileira torna ilegal o aborto de “Carmen”.

Mons. Fisichella faz uma bonita defesa sentimental da menina mas manifesta não conhecer a trama inescrupulosa das estratégias abortistas, que ao invés Dom José enfrentou com firmeza e coerência e , quando a vida dos dois nenêns já estava perdida, truncada pela “guilhotina” do aborto, com a firmeza e a coerência do bom pastor lembrou a excomunhão de quantos colaboraram com este crime, pois a caridade não pode ser vivida fora da verdade, e é isto que dá “credibilidade” à nossa Igreja e a seus pastores.

3) “O respeito devido ao profissionalismo do médico é uma regra que deve envolver todos e não pode consentir chegar a um julgamento negativo sem antes considerar o conflito criado em seu íntimo”

Concordo com esta afirmação de Mons. Fisichella, mas me pergunto: que profissionalismo e que conflito viveram os médicos do IMIP que deixaram que o caso fosse gestido por uma assistente social, que não considerava os nenêns como vidas humanas a serem defendidas, mas somente a vida da “Carmen” supostamente em perigo de morte?

Que profissionalismo e que conflito viveram os médicos que nem quiseram ter contato e explicar o caso para o pai, para o pároco da menina e para o Conselho Tutelar de Alagoinhas, que cuidaram diretamente dela até levá-la ao hospital, para que fosse atendida?

Que profissionalismo e que conflito viveram estes médicos, que negando-se ao contato com os familiares, colaboraram porém para que, à revelia do pai e do advogado delegado dele, a menina com alta a pedido assinado pela mãe, analfabeta e pressionada psicologicamente pela dramaticidade do falso quadro de perigo de morte, fosse seqüestrada pelo grupo feminista Curumim, que a levou a um outro hospital sem revelar o nome (a ginecologista foi junto com a criança a e mãe para este outro hospital, identificado depois como CISAM – ou Maternidade da Encruzilhada), para que o aborto fosse realizado antes que as autoridades judiciais o impedissem?

Que profissinalismo e que conflito viveram os médicos que atuam numa instituição, seja o IMIP e depois o CISAM, que sonegaram as informaçãoes e, no caso do CISAM, sustentou  a mentira de negar a presença da menina, enquanto ela estava sendo submetida ao aborto?

Claro, Mons. Fisichella não podia estar de posse de todas estas informações! Mas se oferece agora uma boa oportunidade para que todos nós, como Igreja de Jesus Cristo, nos informemos melhor e mais profundamnte sobre toda a trama que a partir da criação do Conselho Populacional (1952), por iniciativa da fundação Rockfeller e das outras fundações norte-americanas, está divulgando a mentalidade abortista no mundo inteiro, sutentando a prática do aborto em situação ilegal, para que depois seja aceita como válida sua legalização. Tudo isto tem como finalidade o controle populacional, nova e tremenda arma do capitalismo internacional para a implantação em nível mundial da lógica do mercado, derrubando barreiras morais e religiosas que atrapalham a sua efetivação. A defesa dos direitos da mulher é só pretexto para tornar aceitável para o grande público a legalização do aborto, sendo este o procedimento mais eficaz para se controlar ou diminuir o crescimento de uma população.

O grupo Curumim assim como outras duzentas ONGs, favoráveis ao aborto, esterilização, contracepção e direitos homossexuais, estão atuando há quase vinte anos no Brasil, financiadas por dinheiro estrangeiro principalmente das fundações norte-americanas, para que o aborto seja legalizado e uma estratégia é fazer com que toda gravidez na adolescência seja considerada risco de morte e portanto, ampliando o conceito de aborto necessário ou terapêutico, não punido pelo Código Penal, seja encaminhada para a realização do aborto impropriamente chamado de “aborto legal”.

Para isto nos últimos anos se multiplicaram em todos o Brasil os serviços de “aborto legal”. Tenta-se tornar legal o aborto em caso de malformações fetais (ex. anencefalia) e é por isto que a proposta será avaliada pelo STF. Nas faculdades de medicina ensina-se aos futuros médicos para que orientem as mães, que estejam gerando um filho defeituoso, a solicitarem ao juiz a permissão paro o aborto. O Minstério da Saúde já fez convênio com o IPAS, organização internacional que divulga o aborto, para que a cada ano mil novos médicos sejam treinados sobre as técnicas de aborto.

O governo Lula desde o começo, afirmando de tratar o aborto como problema de saúde pública (afirmação mentirosa pois o número de mortes maternas não depende da  clandestinidade do aborto, mas do atendimento durante a gravidez, parto e pós parto), colabora ativamente com a agenda internacional de implantação do aborto e não mede esforços para convencer os brasileiros, em sua maioria contrários a esta prática, para que se convençam que a lei do aborto é uma coisa boa. Daí as esquizofrênicas declarações do Presidente Lula, que afirma que como cristão é contra o aborto, mas como chefe de estado deve promovê-lo para salvar vidas humanas. É o joguinho da dupla moral oportunista, pois o que interessa ao Presidente é não perder a colaboração econômica do FMI e das outras organizações internacionais, que para ajudar o terceiro mundo exigem que se adote a agenda abortista, em vista do controle populacional. Mais uma vez o Brasil está sendo vendido aos interesses internacionais.

A tática do sequestro de adolescentes grávidas para que abortem a todo custo para favorecer a agenda abortista já foi usada em 2003 na Nicarágua, na Bolívia também, e agora no Brasil e isto não acontece por acaso, mas de caso pensado. Precisamos abrir mais os olhos, nos organizarmos melhor na defesa da vida e não sermos ingénuos.

A firme tomada de posição de Dom José Cardoso Sobrinho é um sinal positivo de como a nossa Igreja, em colaboração com outras forças religiosas e sociais, pode se opôr a esta agenda de neo-paganismo que quer nos fazer engolir o aborto, a libertinagem sexual, o matrimônio gay e a eutanásia, que também faz parte da agenda do controle populacional, apelando para um falso conceito de liberdade.

Pe. Berardo Graz
sacerdote da diocese de Guarulhos SP,
membro da comissão diocesana e regional em defesa da vida,
formado em medicina e cirurgia na Itália, mas sem CRM no Brasil,
cidadão italiano e brasileiro

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Gostaria de acrescentar mais alguns ligeiros comentários ao artigo de Sua Excelência Reverendíssima Dom Rino Fisichella, publicado na edição de ontem de L’Osservatore Romano e aqui reproduzido. Em seu artigo, o presidente da Pontifícia Academia para a Vida fez alguns comentários sobre o caso do aborto em Recife e das declarações do Arcebispo local.

Antes de qualquer coisa é preciso deixar bem claro que ninguém – absolutamente ninguém – negou a existência do cân. 1398 do Código de Direito Canônico que diz que “[q]uem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”. Ora, este é o cerne das declarações do Arcebispo de Olinda e Recife; de onde se pode inferir que, no essencial, ninguém discorda de Dom José Cardoso e nem pode discordar, porque seria discordar do Código de Direito Canônico da Igreja. Todos os “católicos” que chiaram contra a pena nos últimos dias, que consideraram um absurdo medieval a existência da excomunhão, que lançaram ao Arcebispo a pecha infamante de “Inquisidor” e coisas parecidas, no final das contas era contra a Igreja – ainda que não o soubessem – que dirigiam a sua fúria descabida. Quanto a este ponto, não cabe discussão.

No entanto, há a possibilidade – e é aqui que se insere o artigo de Dom Fisichella – de se questionar não o cânon em si (o que seria impossível), mas a atitude do Arcebispo de Olinda e Recife de anunciar publicamente a sua existência em meio ao drama (o que, diga-se de passagem, é inoportuno e imprudente – mas, vá lá!). A quantidade de matizes que esta modalidade de crítica pode admitir é virtualmente infinita, indo desde o questionamento sobre a existência, no caso concreto, de atenunantes que poderiam livrar da excomunhão os envolvidos no aborto, até a afirmação peremptória de que foi inoportuna a declaração do Arcebispo. O artigo de Dom Fisichella consegue cobrir estes dois extremos.

Ele critica abertamente a postura de Dom José Cardoso, ao afirmar, por exemplo, que o assassinato das duas crianças inocentes [“É verdade, Carmen trazia dentro de si outras vidas inocentes como a sua, também frutos da violência, e foram suprimidas“; grifos meus] não é – pasmem! – motivo suficiente para se falar na excomunhão [“não basta para emitir um julgamento que pesa como um machado”; grifos meus novamente]! Oras, Excelência, data venia, se o assassinato de duas crianças inocentes, que V. Excia. admite existir, “não basta” para emitir o “julgamento que pesa como um machado”, então o que é que bastaria para emiti-lo? O que é que está faltando? Se a existência de fato de um delito não é suficiente para se falar na pena em que incorre quem comete este delito… então quando é que poderemos falar nesta pena? Nunca…?

Donde se vê que a argumentação simplesmente não procede. Diz Sua Excelência que a existência do aborto não é o bastante para falar na excomunhão, mas esquece-se de dizer o que seria o bastante. Caímos, neste caso, em um “raciocínio” semelhante ao encontrado nas declarações do Secretário Geral da CNBB: nunca poderíamos falar sobre o assunto. Os inimigos da Igreja certamente iriam gostar deste silêncio que raia à cumplicidade; no entanto, nós, católicos, temos sempre a obrigação de falar. Podemos sempre repetir com o Apóstolo: “ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,16)!

A outra parte da crítica de Dom Fisichella refere-se à existência da excomunhão em si, no caso concreto deste aborto ocorrido em Recife. Infere-se a sua simpatia pelos médicos em pelo menos dois trechos do seu artigo: quando ele fala que “não se pode consentir que se faça um juízo negativo, sem primeiro ter considerado o conflito que se criou em seu [do médico] íntimo”, e – pior ainda! – quando diz, dirigindo-se à menor, que “[s]ão outros que merecem a excomunhão e o nosso perdão, não os que te permitiram viver”. Aqui, peca Sua Excelência por desinformação: não houve “conflito” algum no “íntimo” dos médicos, porque são abortistas militantes. Em nenhum momento eles titubearam; não se tratou, sob nenhuma ótica, de uma decisão tomada sob a pressão de ter diante de si uma vida que se esvaía e pela qual era necessário urgentemente fazer alguma coisa, porque a menina não corria nenhum risco de vida imediato. Outrossim, o que significa a frase misteriosa do final do artigo? Não são os médicos carniceiros que merecem a excomunhão? Quem são os “outros” aos quais Sua Excelência se refere? Por que Dom Fisichella não expõe claramente as suas opiniões sobre o assunto, ao invés de ficar com estas sentenças soltas e frases genéricas que ninguém sabe ao certo o que significam?

O artigo do presidente da Pontifícia Academia para a Vida aborda aspectos corretos dos problema (e talvez isso explique a sua publicação no L’Osservatore), porque, afinal, é certamente necessário dar apoio humano à menor violentada e é obviamente necessário levar em consideração os aspectos subjetivos que, num caso concreto, delimitam as fronteiras entre o erro de boa fé (que exime da pena) e a malícia do ato (que faz nela incorrer); no entanto, ele é duplamente injusto. É injusto com Dom José Cardoso, retratado como um insensível, e é injusto com os médicos promotores do aborto, virtualmente apresentados como cristãos exemplares atravessando dramas de consciência. Uma completa inversão de papéis! É de se lamentar que – mais uma vez – um Sucessor dos Apóstolos venha a ser usado pelos inimigos da Igreja para atacá-La e humilhá-La. Não, Dom Fisichella, a Igreja – definitivamente – não precisava disso.

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[Publico tradução (traditora…) do artigo de Dom Rino Fisichella, Arcebispo presidente da Pontifícia Academia para a Vida, publicado na edição de hoje do L’Osservatore Romano, ao qual se refere – entre outras – esta reportagem. Vale salientar que (a) trata-se de um artigo de um jornal, e não de um documento da Santa Sé; (b) trata-se da posição pessoal de um Arcebispo, e não de uma “crítica do Vaticano”; (c) data maxima venia, trata-se de uma excelente situação na qual Sua Excelência bem que poderia ter ficado calado…

A edição de hoje – Anno CXLIX n. 62 (45.105) domenica 15 marzo 2009 – de L’Osservatore Romano pode ser baixada aqui.]

Sobre a menina brasileira

RINO FISICHELLA *

O debate sobre algumas questões é muitas vezes cerrado e as diferentes perspectivas nem sempre nos permitem considerar o quanto o que está em jogo é verdadeiramente grande. É este o momento no qual se deve guardar o essencial e, por um instante, deixar de lado aquilo que não toca diretamente ao problema. O caso, em sua dramaticidade, é simples. Existe uma menina de apenas nove anos – chamemo-la Carmen – em cujos olhos nós devemos olhar fixamente, sem desviarmos o olhar nem por um instante, para fazê-la entender o quanto nós lhe queremos bem. Carmen, de Recife, no Brasil, foi violentada repetidas vezes pelo jovem padrasto, ficou grávida de dois gêmeos e não terá mais uma vida fácil. A ferida é profunda porque a violência de todo gratuita a destruiu por dentro, o que dificilmente a permitirá no futuro olhar aos outros com amor.

Carmen representa uma história de violência quotidiana e ganhou as páginas dos jornais somente porque o arcebispo de Olinda e Recife apressou-se a declarar a excomunhão para os médicos que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história de violência que, portanto, teria passado despercebida, tanto se está habituado a sofrer todos os dias fatos de uma gravidade inigualável, se não fosse por causa do tumulto e das razões suscitadas pela intervenção do bispo. A violência contra uma mulher, já grave de per si, assume um valor ainda mais lamentável quando é uma menina a sofrê-la, com o agravante da pobreza e da degradação social na qual vive. Não existem palavras adequadas para condenar tais episódios, e os sentimentos que se seguem são com freqüência uma mistura de raiva e de rancor, que só sossegam [assopiscono] quando vêem a justiça realmente realizada, e a pena a ser infligida ao delinqüente, por sua vez, é certo que seja aplicada.

Carmen deveria ser em primeiro lugar defendida, abraçada, acariciada, com doçura para fazê-la sentir que estávamos todos com ela; todos, sem distinção alguma. Antes de pensar na excomunhão era necessário e urgente salvaguardar sua vida inocente e fazê-la retornar a um nível de humanidade do qual nós, homens de Igreja, devemos ser anunciadores e mestres especialistas [esperti]. Assim não foi feito e, portanto, sofre as conseqüências [ne risente] a credibilidade do nosso ensinamento, que aparece aos olhos de tantos como insensível, incompreensível e privado de misericórdia. É verdade, Carmen trazia dentro de si outras vidas inocentes como a sua, também frutos da violência, e foram suprimidas; isto, no entanto, não basta para emitir um julgamento que pesa como um machado.

No caso de Carmen, encontram-se a vida e a morte. Por causa de sua pouquíssima [giovanissima] idade e das condições de saúde precárias, a sua vida estava em sério risco por causa da gravidez. Como agir nestes casos? Decisão difícil para o médico e para a própria lei moral. Escolhas como esta, ainda se com uma casuística diferente, repetem-se todos os dias nas salas de reanimação, e a consciência do médico encontra-se sozinha com ela mesma no ato de ter que decidir o que é melhor a se fazer. Nenhum, entretanto, chega a uma decisão deste gênero com desenvoltura: é injusto e ofensivo até mesmo pensá-lo.

O respeito devido ao profissionalismo do médico é uma regra que deve envolver todos, e não se pode consentir que se faça um juízo negativo, sem primeiro ter considerado o conflito que se criou em seu íntimo. O médico traz consigo a sua história e sua experiência; uma escolha como aquela de precisar salvar uma vida, sabendo que põe em sério risco uma segunda, nunca é vivida com facilidade. Certo, alguns se habituam às situações para, assim, não experimentarem mais as emoções; nestes casos, porém, a escolha de ser médico degrada-se em apenas uma ocupação vivida sem entusiasmo e passivamente. Fazer de todas as plantas um feixe [Fare di tutta un’erba un fascio], no entanto, além de incorreto seria injusto.

Carmen nos propôs um caso moral entre os mais delicados; tratá-lo precipitadamente não redundaria em justiça, nem para com a sua frágil pessoa, nem para com tantos quanto estão envolvidos, de várias maneiras, na sua história. Como todos os casos singulares e concretos, no entanto, merece ser analisado em sua peculiaridade, sem generalizações. A moral católica tem princípios dos quais não pode prescindir, ainda que quisesse. A defesa da vida humana desde a sua concepção é um destes, e se justifica pela sacralidade da existência. Todos os seres humanos, de fato, desde o primeiro instante carregam impressa em si a imagem do Criador, e por isto estamos convencidos de que devemos reconhecer a diginidade e os direitos de todas as pessoas, antes de tudo aqueles da sua intocabilidade e inviolabilidade.

O aborto provocado é sempre condenado como um ato intrinsecamente mau e este ensinamento permanece inalterado em nossos dias, desde os primeiros da Igreja. O Concílio Vaticano II na Gaudium et Spes – documento de grande abertura e compreensão [accortezza] no  tocante ao mundo contemporâneo – usa de maneira inesperada palavras inequívocas e duríssimas contra o aborto direto. A própria colaboração formal constitui uma culpa grave que, quando realizada, traz automaticamente para fora da comunidade cristã [porta automaticamente al di fuori della comunità cristiana]. Tecnicamente, o Código de Direito Canônico usa a expressão latae sententiae para indicar que a excomunhão ocorre justamente no próprio momento no qual o fato acontece.

Não havia necessidade, repetimos, de tanta urgência e publicidade em declarar um fato que atua de maneira automática. Aqueles dos quais se sentem mais a necessidade neste momento são o sinal de um testemunho de proximidade com quem sofre, um ato de misericórdia que, mantendo firme o princípio, é capaz de olhar para além da esfera jurídica e alcançar aquilo que o direito mesmo estabelece como escopo de sua existência: o bem e a salvação de quantos acreditam no amor do Pai e de quantos acolhem o Evangelho de Cristo como as crianças, que Jesus chamava a Si e estreitava entre Seus braços, dizendo que o Reino dos Céus pertence a quem se lhes assemelha.

Carmen, estamos ao teu lado. Dividimos contigo o sofrimento que experimentaste, e gostaríamos de fazer de tudo para restituir-te a dignidade da qual foste privada e o amor do qual tens agora mais necessidade. São outros que merecem a excomunhão e o nosso perdão, não os que te permitiram viver e te ajudaram a recuperar a esperança e a confiança. Não obstante a presença do mal e a maldade de muitos.

* Arcebispo presidente da Pontifícia Academia para a vida.

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Duas ligeiras coisas sobre Pio XII. Em primeiro lugar, o jornal alemão Der Spiegel publicou uma reportagem bastante tosca – que ganhou eco na mídia nacional (só para assinantes, abaixo reproduzida na íntegra tal como recebi por email) – na qual se questiona o processo de canonização do Servo de Deus. Chegando ao cúmulo de citar John Cornwell, evidente está que a matéria não pode exigir seriedade. Fica só o registro do baixo nível a que chegam os detratores de Pio XII, que por si sós já lançam descrédito sobre a tese que defendem.

Em segundo lugar, comentei aqui sobre um editorial de L’Osservatore Romano publicado logo após as declarações do pérfido judeu no Sínodo dos Bispos. Um amigo teve a gentileza de conseguir-me o texto original, que apresento traduzido, não por ser – como pensei a princípio – uma resposta ao rabino de Haifa Cohen, mas por ser a parte positiva daquilo que o judeu disse [ou devia ter dito] sobre o problema da interpretação das Escrituras Sagradas pelos judeus e pela Igreja. Em particular, o texto tem o mérito de separar muito bem as coisas, ao delimitar – mesmo reconhecendo a existência de um patrimônio comum entre judeus e cristãos – o que é interpretação judaica e o que é interpretação cristã, deixando claro que a primeira não é aceitável para os cristãos. Só atento para o fato de que o traduttore, traditore é particularmente válido quando o traditore em questão sou eu, de modo que quaisquer correções no texto são muitíssimo bem vindas.

Primeiro, pois, o texto de L’Osservatore, e depois o do Der Spiegel.

* * *

Respeito e amor pelo povo judeu

Existe um texto, entre aqueles lidos no primeiro dia do Sínodo [dos bispos], que deixará a [sua] marca. Trata-se do relatório do Cardeal Albert Vanhoye sobre um documento – dentre os mais importantes das últimas décadas – publicado no outono de 2001 pela Pontifícia Comissão Bíblica. “O povo judeu e as suas Escrituras Sagradas na Bíblia cristã” é o título que indica o tema do documento que, não obstante a sua importância, obteve uma escassa circulação na pregação e na catequese católica. Nas três edições [impressas] pela Livraria Vaticana, a tiragem do texto italiano foi de apenas quinze mil cópias. O fato de que um Sínodo se abra explicando um documento surgido, sete anos atrás, por um autorizado estudioso que participou de sua preparação, indica a estreita correlação entre o tema sinodal e o conteúdo do texto; mas ao mesmo tempo propõe a toda a Igreja um ponto de vista [a partir] do qual interpretar [leggere] o diálogo entre judeus e cristãos: aquele da Bíblia.

O tema da Palavra de Deus é muito caro a Bento XVI, antes é uma chave de leitura para compreender melhor o [seu] pontificado. Os três principais documentos saídos do Concílio [Vaticano II] e após [ele] que se referem à Palavra de Deus – a Constituição Conciliar Dei Verbum (1965), A Interpretação da Bíblia na Igreja (1993), O Povo Judeu e as suas Escrituras Sagradas na Bíblia Cristã (2001) – tiveram um apoio não [apenas] secundário do teólogo e depois cardeal Ratzinger. Os dois últimos foram preparados sob a sua responsabilidade de prefeito da [Congregação para a] Doutrina da Fé e se abrem com um prefácio seu. Apesar disto, enquanto o cardeal Vanhoye lia o seu relatório, Bento XVI sublinhava o texto que escutava. Um pequeno gesto que assinala a importância, para os padres sinodais, de participarem de um tema que o mesmo Ratzinger, quando cardeal, havia definido como «questão central da Fé cristã». Vanhoye contou que levou cinco anos para escrever o documento, e que se trata de um trabalho «realizado com rigor científico e com espírito de respeito e amor pelo povo judeu».

«Sem as Escrituras Sagradas do povo judeu – acrescentou com uma afirmação vigorosa – a Bíblia Cristã não estaria completa. Isto é perfeitamente verdadeiro, mas insuficiente. O Antigo não é simplesmente uma peça entre as outras da Bíblia Cristã. É a base, a parte fundamental. Se o Novo Testamento fosse estabelecido sobre alguma outra base, não teria valor verdadeiro. Sem a sua conformidade com as Sagradas Escrituras do povo judeu, não teria podido apresentar-se como a realização do plano de Deus».

Daqui resulta que «os cristãos podem e devem aceitar que a leitura judaica da Bíblia é uma leitura possível». Mas esta leitura «possível para os judeus que não crêem em Cristo, não é possível para os cristãos, na medida em que implica na aceitação de todos os pressupostos do judaísmo, em particular daqueles que excluem a fé em Jesus como Messias e Filho de Deus». Todavia, as censuras e os textos polêmicos contidos no Novo Testamento em confronto com os [textos] dos judeus, provocados no início do Cristianismo pela oposição dos judeus ao apostolado cristão, «não correspondem jamais a uma atitude de ódio» e «não devem servir de base ao anti-judaísmo». Uma tal utilização com este objetivo é «contrária à orientação de todo o Novo Testamento». Uma atitude de respeito, de estima e de amor pelo povo judeu «é a única atitude verdadeiramente cristã». Não obstante as diferenças, «o diálogo permanece possível, pois judeus e cristãos possuem um rico patrimônio comum que os une». É na direção de um melhor conhecimento recíproco que a Igreja é, assim, convidada a progredir. Trata-se de uma posição que não prescinde do contexto do nosso presente, como o mesmo cardeal Ratzinger escrevia no prefácio ao texto da Comissão Bíblica: o drama do Shoah pôs toda a questão sob uma outra luz.

Com o relatório de Vanhoye, o sínodo deu o sinal de uma posição [di uno stile] de escuta e de abertura, mas [no entanto] também de uma busca racional [ragionata] às respostas dos grandes problemas. O relator geral, cardeal Marc Ouellet, traçou pistas de reflexão para os padres sinodais. Parece pelo menos temerário [intempestivo] querer prefigurar já de início o resultado dos trabalhos sinodais como renovações de proibições ou discussões estéreis. As palavras do Papa deixam, ao contrário, pressentir sábias aberturas pastorais confiantes na Palavra de Deus, «fundamento de toda a realidade».

* * *

Controvérsia sobre Pio 12 se intensifica


Santidade para o papa do Holocausto?

O papa Bento 16 alimentou na quinta-feira passada as especulações sobre a possível beatificação do papa Pio 12, criticado com freqüência por não ter feito o suficiente para combater o Holocausto. O Vaticano tem trabalhado duro para melhorar a imagem popular de Pio.

Normalmente, o processo de beatificação é um negócio a portas fechadas, que acontece dentro do Vaticano, bem longe do olhar do público. Mas não dessa vez. Há meses a Igreja Católica está enviando sinais de que beatificação do papa Pio 12, que comandou a Igreja Católica durante a 2ª Guerra Mundial, pode ser iminente. Alguns historiadores e líderes judeus, entretanto, protestaram contra a atitude, argumentando que Pio 12 fez menos do que deveria para salvar os judeus do Holocausto.

O papa Bento 16 lançou na terça-feira uma saraivada de argumentos em defesa de Pio 12. Falando durante uma missa na Basílica de São Pedro em comemoração ao 50º aniversário da morte de Pio, Bento disse que o pontífice, que se tornou papa em 1939 logo antes do irromper da guerra, “trabalhou em silêncio e em segredo” durante o conflito “para evitar o pior e salvar o maior número possível de judeus.”

Bento lembrou ao público que a ministro israelense de relações exteriores Golda Meir homenageou Pio quando ele morreu em 9 de outubro de 1958. Bento 16 também enfatizou uma mensagem de Natal de Pio para o rádio em dezembro de 1942, na qual ele falou sobre as “centenas de milhares de pessoas que, sem terem cometido nenhum erro, apenas por razões de nacionalidade ou raízes étnicas, foram destinadas à morte ou à lenta deterioração.”

O processo de beatificação, a etapa formal final antes de declarar a santidade, “pode acontecer com alegria”, disse Bento 16 na quinta-feira.

Entretanto, nem todo mundo é tão otimista quanto à perspectiva de santificação de Pio 12. O rabino chefe da cidade de Haifa (em Israel), She’ar Yashuv Cohen, que na segunda-feira se tornou o primeiro judeu a falar diante do concílio de bispos do Vaticano, disse que muitos judeus estavam descontentes em relação a Pio.

“Sentimos que o finado papa deveria ter se posicionado mais fortemente do que fez”, disse numa entrevista coletiva antes de falar ao concílio. “Ele pode ter ajudado muitas vítimas e refugiados em segredo, mas a questão é: ele poderia ter erguido sua voz? E isso teria ajudado ou não? Nós, como vítimas, sentimos que (a resposta é) sim.”

Outros não foram tão diplomáticos. Num livro de 1999 chamado “Hitler’s Pope” [“O Papa de Hitler”], o escritor britânico John Cornwell documentou o papel de Pio antes de se tornar papa, na negociação do “Reichskonkordat”, tratado assinado entre a Alemanha Nazista e a Igreja Católica em 1933. Muitos historiadores argumentaram que esse acordo fornecia ao regime nazista um grau substancial de legitimidade internacional.

Mas a afirmação de Cornwell de que o papa Pio 12 falhou em tomar uma ação séria para salvar os judeus tem sido confrontada e o próprio autor se retratou de algumas de suas alegações mais controversas em relação à suposta aquiescência de Pio.

Mesmo assim, muitos judeus ainda são críticos em relação ao papel que Pio desempenhou. Sua foto no museu do Holocausto Yad Vashem inclui uma descrição bastante dura.

“Mesmo quando notícias do assassinato de judeus chegaram ao Vaticano, o papa não protestou nem verbalmente nem escrevendo”, diz a legenda.
“Em dezembro de 1942, ele se absteve de assinar a declaração aliada condenando o extermínio de judeus. Quando os judeus foram deportados de Roma para Auschwitz, o papa não interveio.”

A veracidade da legenda da foto foi questionada pelo Vaticano e o museu disse que estaria aberto a realizar uma nova pesquisa sobre o assunto. Os defensores de Pio argumentam que o papa da época da guerra trabalhou duro nos bastidores para proteger os judeus dos campos de concentração nazistas.

O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, publicou na terça-feira um artigo de página inteira elogiando os esforços de Pio durante a 2ª Guerra Mundial. O jornal também incluía um texto escrito pelo secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone. “Se ele tivesse feito uma intervenção pública, teria colocado em perigo a vida de milhares de judeus, que, sob suas ordens, foram escondidos em 155 conventos e monastérios apenas em Roma”, escreveu Bertone.

O padre jesuíta Peter Gumpel, que, como investigador-chefe do Vaticano, passou anos pesquisando sobre o papa para avaliar sua candidatura à santidade, deu sua bênção para a beatificação. Em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung na terça-feira, Gumpel disse que leu tudo o que conseguiu encontrar, e teve acesso a arquivos do Vaticano que ainda não foram colocados à disposição do público.

“Se eu tivesse encontrado algo incriminador nos arquivos, eu nunca teria assinado”, disse Gumpel ao Süddeutsche. “Afinal, eu tenho muita responsabilidade como o juiz de investigação.”

O caminho para a beatificação do papa Pio 12, que começou em 1967, nem sempre foi direto e sofreu repetidos atrasos. Com o processo de beatificação aparentemente em marcha, alguns argumentam que este é o momento para a Igreja Católica abrir seus arquivos para que os historiadores independentes possam olhá-los.

“Eu gostaria que eles gastassem uma grande porcentagem de seu tempo e esforços para abrir os arquivos, e menos tempo selecionando o que apresentam”, disse Abraham Foxman da Liga Anti-Difamação (ADL) recentemente ao jornal National Catholic Reporter. Foxman e a ADL se opõem consistentemente à beatificação de Pio. “Eles estão protestando demais. Estamos dispostos a suspender o nosso julgamento e o Vaticano deveria suspender o seu (próprio) até que os acadêmicos pudessem examinar abertamente o material e ver o que existe lá.”

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